São Paulo, terça-feira, 21 de dezembro de 2010

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Não sei se Sean está vivo ou morto, diz avó

Há seis meses sem notícias do neto, Silvana Bianchi luta na Justiça americana pelo direito de visitar o menino

Segundo ela, pai mudou o telefone de casa e não atende ao celular; se estivesse tudo bem, ele nos deixaria vê-lo, diz


Rafael Andrade/Folhapress
Silvana Bianchi em seu apartamento no Jd. Botânico, na zona sul do Rio; ela diz não falar com o neto Sean desde de junho

CRISTINA GRILLO
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DO RIO


Silvana Bianchi é uma mulher triste. Desde 22 de junho não sabe do neto, Sean, que viveu ao seu lado por cinco anos. Nesse dia, o menino telefonou pela última vez e, numa breve conversa em inglês, disse que estava bem.
Nos seis meses anteriores, eles se falaram quatro vezes.
"Foi uma conversa sem espontaneidade. Ele parecia ter alguém do lado, tomando conta do que falava", afirma.
Sean deixou o Brasil na véspera do Natal do ano passado, depois que uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) determinou que ele fosse entregue ao pai, o americano David Goldman.
Foi a segunda perda de Silvana em um intervalo de um ano e quatro meses. Em agosto de 2008, a filha Bruna, 34, mãe de Sean, morreu vítima de hemorragia pós-parto.
A batalha jurídica em torno da guarda de Sean envolveu, além do STF, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, que em março de 2009 pediu ao governo brasileiro a volta do menino.
Sean veio ao país de férias com a mãe, em 2004. Aqui, Bruna disse ao marido que não voltaria. Silvana diz que tentou convencer a filha a resolver o impasse com David.
"Talvez se ele tivesse vindo teriam resolvido o problema. David poderia ter ficado aqui e eles poderiam ter continuado juntos", diz Silvana.
A partir daí iniciou-se a disputa pela guarda do menino. Na Justiça brasileira tramitam hoje recursos para que seja revista a sentença do Tribunal Regional Federal que determinou a volta de Sean aos EUA, onde nasceu.
Na Justiça americana, os avós maternos pedem, sem sucesso, o direito de visitá-lo. "Não sei se meu neto está vivo ou morto", diz, chorando.
Segundo ela, o ex-genro mudou o telefone de casa e não atende ao celular.
Logo após a partida do neto, Silvana recebeu um e-mail de David estabelecendo as regras para futuros contatos: deveria falar em inglês, idioma que não domina; não poderia falar sobre o Brasil nem a respeito da irmã, Chiara.
"As conversas ficaram difíceis, sem espaço para afetividade. Mas eu seguia o roteiro para poder ao menos ouvir a voz do meu neto", lamenta.
Às vésperas de a partida de Sean completar um ano, Silvana relembra a saída do neto. "Ele saiu daqui arrastado, como um pacote, no dia de Natal. Não consigo acreditar que seja feliz lá, sem saber de nós, da irmã."
David Goldman sempre argumentou que o filho foi retirado de seu convívio sem sua autorização -o que, de acordo com a Convenção de Haia, configura sequestro.
Silvana chora novamente ao imaginar a vida de Sean. "Deus sabe como essa criança está sendo tratada, o que come, o que veste. Se estivesse bem, não haveria problema em nos deixar ver."
Caso a Justiça não lhe conceda o direito de rever o neto, hoje com dez anos, diz Silvana, a esperança é que ele cresça e questione o pai. "Tenho certeza de que vai querer nos ver. É o direito dele."


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