São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2004

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EDUCAÇÃO

Discussão será ampliada antes da publicação de medida provisória; crítica ao sistema teria influenciado decisão

Governo recua e rediscute cotas para negros

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal decidiu, em reunião anteontem no Palácio do Planalto, voltar a discutir a implantação de cotas para negros no vestibular de universidades federais antes de publicar medida provisória sobre o assunto.
Relatório entregue no final de 2003 pelo grupo interministerial criado para tratar do tema sugeria a publicação de uma MP autorizando instituições federais a adotarem as cotas a partir deste ano.
Além disso, o documento propunha a criação de um fundo com recursos que seriam distribuídos para as universidades usarem em projetos visando a manutenção dos alunos no ensino superior.
O sistema a ser adotado para considerar o aluno negro seria a autodeclaração.
A expectativa era que a medida fosse publicada ainda neste mês. A Folha apurou que críticas feitas à adoção de cotas no ensino superior influenciaram a decisão do governo de ampliar o debate antes de publicar alguma definição.
Para a ministra Matilde Ribeiro (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial), responsável pela coordenação do grupo, o governo não conseguirá evitar críticas, mesmo após realizar mais debates.
"Assim como a discriminação é histórica, as críticas também são. Não acho que chegaremos a um momento em que elas não existirão mais", disse a ministra.
Segundo ela, será montado um cronograma de discussões com entidades e especialistas para voltar a tratar do assunto.
"Sabemos da importância da adoção das cotas, mas queremos fazer sem afogadilhos", afirmou.
A ministra disse considerar as cotas uma parte das ações afirmativas e uma medida transitória, que precisa ser combinada a outras políticas de governo, como a melhoria do sistema público de educação.
Dados do questionário socioeconômico do Provão apontam que a proporção de negros e pardos entre os formandos do ensino superior aumentou nos últimos quatro anos. Em 2000, 15,7% dos formandos de 18 áreas avaliadas se declararam negros ou pardos, percentual que aumentou para 20,7% em 2003, uma variação de 32%. (LUCIANA CONSTANTINO)


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