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ENSINO SUPERIOR
De 91 a 2004, caiu de seis para três o número de instituições públicas entre as dez maiores em total de estudantes
Universidades privadas aumentam domínio
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No ano em que a USP perdeu
duas posições no ranking de
maiores universidades em número de alunos na graduação, a Estácio de Sá, do Rio, e a Unip, de São
Paulo, dão mostras de que, após o
crescimento acelerado, podem ter
chegado perto de seus limites de
expansão. É o que mostra o ranking das dez maiores instituições,
feito a pedido da Folha pelo Inep
(Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais), do
MEC, a partir do Censo da Educação Superior de 2004.
As duas instituições que mais se
destacaram pelo ritmo de crescimento foram a Universo (Universidade Salgado de Oliveira), do
Rio, e a Uninove (Centro Universitário Nove de Julho), de São
Paulo. A Universo foi a que mais
ganhou alunos de um ano para o
outro. Foram 11.838 novos estudantes de 2003 para 2004, um
crescimento de 33,1%. A Uninove
teve o maior crescimento proporcional: 35,9%, com acréscimo de
10.557 alunos.
Ano a ano, a análise das dez
maiores vem refletindo a perda de
participação do setor público. Em
1991, das dez maiores universidades, seis eram públicas, sendo três
federais e três estaduais.
Naquele ano, a USP liderava
com folga o ranking, com 32 mil
alunos, bem à frente da PUC do
Rio Grande do Sul e da UFRJ (ambas com 20 mil).
Em 2004, o número de instituições públicas entre as dez maiores
caiu para apenas três. Além da
USP -que de 2003 para 2004 foi
ultrapassada pela Universo e pela
Ulbra (Universidade Luterana do
Brasil), com sede no Rio Grande
do Sul-, aparecem no ranking
também as universidades estaduais de Goiás e do Piauí. Nenhuma instituição federal aparece
mais entre as dez.
Essas duas estaduais, em Estados com menor tradição no ensino superior, no entanto, dão sinais de que logo não estarão mais
no grupo das maiores. Elas ocupam, respectivamente, a nona e a
décima colocação e foram também as únicas instituições a perder alunos na comparação de um
ano para o outro. Por essa razão,
caíram, cada uma, duas posições
no ranking nacional.
Dupla no topo
As duas maiores universidades
do país encontram-se num patamar muito acima das demais em
número de alunos. A Estácio, por
exemplo, é a única do país a ter
mais de 100 mil alunos (eram
104.346 em 2004). A Unip, primeira particular a ter ocupado a liderança do ranking (em 1999), tinha
93.210 estudantes. A terceira colocada, a Ulbra, tem 47.883.
As duas crescem, no entanto,
num ritmo muito menor do que o
verificado nos últimos cinco anos.
A Estácio ganhou 3.729 alunos de
2003 para 2004, crescendo 3,7%,
enquanto a Unip aumentou em
1.187 estudantes, um acréscimo
de 1,3% no período.
Em seu pico de expansão, de
2000 para 2001, a Estácio chegou a
crescer 76,6%, saindo de 34 mil
para 60 mil estudantes num único
ano. A Unip, no mesmo período,
teve incremento de 22,9%, saindo
de 66 mil para 81 mil.
O "posto" de instituições que
mais crescem no país, antes ocupada pelas duas maiores particulares, passou agora para a Universo e para a Uninove.
Crescimento forçado
O crescimento da Universo é explicado em parte por uma decisão
judicial em seu favor, confirmada
pelo STF (Supremo Tribunal Federal) há cinco anos, que a transformou na única instituição do
país com autonomia para abrir
campi em qualquer Estado mesmo sem prévia autorização do
Ministério da Educação.
Além de seus campi no Rio, a
instituição mantém unidades em
Minas Gerais, no Distrito Federal,
em Goiás, em São Paulo, em Pernambuco e na Bahia.
A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação, de 1996, restringe essa
autonomia aos limites do Estado
onde a instituição é sediada. O
MEC discorda dessa decisão da
Justiça e tenta, sem sucesso até
agora, revertê-la.
A Universo alega que a decisão é
definitiva e reconheceu um direito previsto em seu estatuto.
No caso da Uninove, trata-se do
primeiro centro universitário a
ocupar uma posição entre as dez
primeiras em número de alunos.
A figura dos centros universitários foi criada por decreto presidencial em 1997.
Assim como acontece com as
universidades, essas instituições
têm autonomia para abrir cursos
sem prévia autorização do MEC,
mas esse direito é restrito à cidade
onde o centro está sediada (no caso das universidades, com autonomia ainda maior, essa prerrogativa vale também para o Estado
onde ela se situa).
A vantagem de ter autonomia,
mesmo que reduzida em relação
às universidades, e a menor exigência legal de investimento em
pesquisa têm levado muitas instituições a pedirem autorização para se tornarem centros.
Prova disso é que desde 2004 o
número de centros universitários
privados é maior do que o de universidades particulares. Segundo
o censo de 2004, havia no país 104
centros privados, ante 86 universidades particulares.
A Uninove, que teve sua origem
no colégio Nove de Julho (zona
norte de SP), afirma em seu site já
ter mais de 50 mil alunos, o que a
colocaria no censo de 2005 (ainda
não divulgado) num patamar
próximo ou até à frente da USP, a
mais prestigiada do país.
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