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ARQUEOLOGIA MARINHA
Peça faz parte de barco, possivelmente um galeão espanhol, que naufragou na costa de Florianópolis
Leme de 300 anos é tirado do fundo do mar
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
JOEL SILVA
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
Após cerca de 300 anos no fundo do mar, o leme de um navio
naufragado foi resgatado próximo à praia dos Ingleses, em Florianópolis, na quarta-feira passada. Muito mais do que uma peça
para museu, o leme de uma tonelada e quase sete metros pode ajudar a equipe da ONG Projeto Arqueologia Subaquática, que realizou a retirada, a identificar a embarcação e desvendar sua história.
A descoberta do navio aconteceu por acaso. O arquiteto Alexandre Viana, 34, que praticava
pesca submarina, encontrou uma
botija (espécie de vasilhame de
barro que servia para levar azeite,
vinho ou água) enquanto mergulhava, em 1989. A partir de então,
passou a desconfiar que um naufrágio havia ocorrido na região e
começou a pesquisar o assunto.
Em março de 2004, com autorização da Marinha, a ONG deu início aos trabalhos de campo. Até
agora, cerca de 13 mil peças foram
retiradas do navio e estão expostas num museu improvisado na
praia dos Ingleses. Entre elas estão cerâmicas, relógios de sol, ossos humanos, anéis, munição,
brasões, tinteiros e uma escala de
navegação datada de 1683.
Antes da retirada do material, o
local foi fotografado. Desenhos
também foram feitos embaixo
d'água -com lápis comum, sobre uma prancha de acrílico. Depois de copiá-los em papel, na terra, pode-se apagar a prancha com
borracha normal e reutilizá-la.
"Sem dúvida o leme foi a peça
mais importante que encontramos até agora. Os pescadores, que
não acreditavam na existência do
navio, deram o braço a torcer",
afirma Viana.
Ainda incipiente no Brasil, a arqueologia subaquática tem a missão de preservar o patrimônio
cultural guardado embaixo d'água e de conhecer nosso passado
submerso. Estima-se que 10 mil
navios tenham afundado na costa
brasileira. Catalogados, entretanto, existem aproximadamente
4.000 e, localizados, cerca de 500.
Porém, muitas embarcações
que navegaram clandestinamente
em águas brasileiras podem ter
afundado sem que se saiba.
A suspeita da equipe de Santa
Catarina, que sobrevive com patrocínios, é que o navio seja um
galeão espanhol, que naufragou
entre 1683 e 1735. O barco possivelmente sofreu um incêndio -o
leme tem marcas de fogo. Um dos
brasões tem o desenho de uma
águia bicéfala, símbolo utilizado
pela Marinha espanhola. Foi encontrada também uma tampa de
garrafa da dinastia inglesa Tudor
e um selo de tecido holandês.
Viana acredita que serão necessários mais três anos para terminar de desvendar o mistério. "Escavamos 200 m2 e penso que será
necessário escavar mais 600 m2."
Os pesquisadores esperam encontrar agora os canhões. "Já localizamos o carregador de canhão. É uma peça pequena, de tamanho semelhante ao de uma
garrafa térmica."
Para conscientizar as pessoas da
importância de preservar os sítios
arqueológicos submersos, a ONG
criou um gibi para distribuir em
escolas. O livreto conta o início do
projeto e responde porque se deve
proteger os naufrágios. "Destruir
os sítios arqueológicos é como
apagar uma parte de nossa história. Preservando estes testemunhos estamos protegendo as realizações e os sonhos de nossos ancestrais", diz o gibi.
Para o almirante Armando Senna Bittencourt, diretor do Patrimônio Histórico e Cultural da
Marinha, um navio naufragado é
como uma cápsula do tempo, que
pode mostrar costumes e usos de
uma época.
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