São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PASQUALE CIPRO NETO

Pequeno roteiro para consultar dicionários


Antes de ir ao dicionário, é preciso saber o que significam os seus códigos (abreviaturas, siglas e sinais convencionais)

NA SEMANA PASSADA, perguntas de leitores sobre uma fala de Lula ("Eu apenas me precavi") me levaram a tratar de questões técnicas (formas ar/rizotônicas, verbos defectivos etc.). Como sempre faço, tentei traduzir esses termos, úteis para quem, por exemplo, abre um dicionário para saber a conjugação de determinado verbo.
Há quem abra o dicionário com fins diferentes dos dois mais óbvios (significado e grafia). O resultado da consulta nem sempre é satisfatório.
Muitas vezes, até o básico do básico -a grafia- fica mal resolvido.
Vejamos: quem abre um dicionário para saber se escreve "incipiente" ou "insipiente" pode sair da consulta pior do que entrou. O consulente vai para a letra "i" e tenta chegar logo às palavras que começam por "in". O dedo e os olhos (ou o cursor) vão correndo até que aparece "incipiente" (com "c"), e aí... Aí não basta encontrar "incipiente" (com "c") e parar por ali. É preciso ir além. É necessário ler a lista do(s) significado(s) de "incipiente" ("que está no início", "principiante") para ficar sabendo que existe também a forma "insipiente" (com "s"), que significa "que não sabe", "ignorante", "não sapiente". E como se fica sabendo que existe a palavra "prima"? No "Aurélio", por exemplo, encontra-se esta observação, posta entre colchetes, no fim de tudo: "Cf. insipiente". Esse "cf." não quer dizer "conforme"; quer dizer "confronte". E como se fica sabendo que esse "cf." significa "confronte"? É preciso ler as páginas iniciais do dicionário. Lá estão todos os "códigos" adotados pela obra.
Se o dicionário consultado é o "Houaiss", encontra-se (também no fim de tudo) a indicação de possíveis "homônimos". No caso de "incipiente", encontra-se a indicação da existência de "insipiente", com esta informação: "adj. 2g.", o que não ajuda muito -não ajuda nada ("adj. 2g." significa "adjetivo de dois gêneros", ou seja, a forma é igual para o masculino e para o feminino). Bom mesmo é saber o que significa o "primo", o que exige nova pesquisa -sem preguiça, é claro.
Moral da história: antes de ir ao dicionário, é preciso saber o que significam os seus códigos ("Abreviaturas, siglas e sinais convencionais", no caso do "Aurélio").
Outro caso interessante é o da consulta a respeito da conjugação de determinado verbo. Alguém quer saber como se conjuga "gerir", por exemplo ("gerir", não "gerar" -lembre-se de que o gerente é aquele que gere, portanto "gerir" é sinônimo de "gerenciar"). Se o dicionário consultado é o "Aurélio", encontra-se esta informação (também posta entre colchetes e depois dos significados): "Irreg. Conjug.: v. aderir". Essa explicação também se encontra quando se procura "ferir" (ou "ingerir" etc.). Que significa isso? Que basta saber conjugar "aderir" para saber conjugar "gerir" etc.
E se não se sabe conjugar "aderir"? Procura-se o próprio! Lá se encontra... Bem, deixemos de lado os termos técnicos e passemos à conjugação (do presente do indicativo): "eu adiro, tu aderes, ele adere...". Moral da história: "eu giro, tu geres, ele gere..."; "eu ingiro, tu ingeres...". E o presente do subjuntivo? O de "aderir" é "que eu adira, que tu adiras...", portanto o de "gerir" é... Já sabe, não? Lá vai: "O novo diretor quer que eu gira a filial de Manaus". Feio, não? É por essas e outras que, nessas horas, muita gente (sensatamente) troca o verbo ("...que eu gerencie"). É isso.

inculta@uol.com.br


Texto Anterior: Entrevista: "Foi uma luz no fim do túnel", diz estudante
Próximo Texto: Trânsito: CET monitora o trânsito no entorno da Campus Party
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.