São Paulo, quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

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Faxineiro "comanda" base fantasma da PM na Augusta

Funcionário de associação monta e desmonta guarita que passa o dia sem policial

Comerciantes reclamam da falta de efetivo em grande parte das 28 bases da região da Paulista; equipamentos estão nas ruas desde 2002


DO "AGORA"

Todas as manhãs, o auxiliar de limpeza Francisco Medeiros Neto, 33, tira a guarita da Polícia Militar da galeria Augusta Shops, a arrasta pela calçada e a coloca na esquina das ruas Augusta e Luís Coelho, no centro de São Paulo. Nenhum policial, porém, aparece para ocupar o posto. No começo da noite, quem passa pelo local vê o faxineiro desmontar a cabine, levando-a de volta para a galeria, e baixar as portas. A cena se repete há pelo menos um ano.
Se houvesse policial lá, dizem comerciantes da região, crimes como o assalto a uma relojoaria, a menos de dez metros da cabine vazia, poderiam ter sido evitados. "Isso virou um enfeite, não sei para que colocam aí se não tem ninguém", reclama o chaveiro Paulo Soledad, 43.
As guaritas desocupadas estão espalhadas por toda a região da avenida Paulista. Muitas delas são usadas por comerciantes, que põem e tiram as estruturas diariamente, como uma espécie de espantalho para os criminosos.
A reportagem conversou com alguns comerciantes de pontos próximos à base desocupada. Todos afirmaram que já fizeram vários pedidos à Polícia Militar para que fosse colocado um homem no local, mas não houve sucesso.
O equipamento -cujo nome técnico é supedâneo- foi colocado na esquina da Augusta há sete anos, com outros 39 espalhados pela região, em uma parceria da Associação Paulista Viva com a Polícia Militar. Na época, sem exceção, os policiais ficavam em dois turnos nas guaritas -manhã e tarde.
Para evitar que, à noite, a cabine de fibra de vidro avaliada em R$ 7.000 fosse alvo de vandalismo, a direção da galeria Augusta se comprometeu a guardá-la e a limpá-la.
De acordo com a PM, a ajuda recebida desse e de outros pontos comerciais era uma demanda dos próprios policiais militares, que se sentiam constrangidos e vulneráveis carregando a base pela rua.

Paulista
De 28 pontos visitados pela reportagem que têm guaritas da Polícia Militar na região da avenida Paulista, em apenas seis locais havia realmente efetivo. A reportagem percorreu a avenida duas vezes ontem, às 15h e às 19h, para checar quais postos tinham soldados da PM.
No começo da tarde, apenas 3 das 15 cabines na avenida Paulista tinham policiais. No início da noite, outros três postos tinham policiais. Durante todo o dia, apenas uma dessas guaritas permaneceu sempre ocupada.
Desde 2002, as guaritas foram responsáveis pela redução de 80% na criminalidade na região, de acordo com a Associação Paulista Viva.
(ARTUR RODRIGUES, ZANONE FRAISSAT e DIEGO SARTORATO)


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