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SAÚDE NA UTI
Houve corte drástico de atendimentos em 6 das 12 unidades que passaram do governo federal para o municipal
Rio vive crise em hospitais municipalizados
ADRIANA CHAVES
DA SUCURSAL DO RIO
Um embate entre a Prefeitura
do Rio e o Ministério da Saúde
sobre a manutenção de 12 hospitais e maternidades federais municipalizados na segunda metade da década de 90 vem provocando redução drástica do atendimento e das cirurgias em pelo
menos seis unidades da rede.
O prefeito do Rio, Cesar Maia
-citado como possível candidato do PFL à Presidência-, diz
que a crise se deve à falta de repasses de verbas pelo governo federal para cobrir despesas. Já o
governo federal acusa o município de não cumprir cláusulas do
acordo que permitiria uma
transferência maior de recursos.
Na entrada do Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá (zona
oeste), foram penduradas duas
faixas com os dizeres: "Estamos
antecipando o luto deste hospital" e "O hospital está morrendo
por falta de recursos". A unidade
suspendeu atendimentos de
emergência e novas internações.
"A situação é catastrófica, 70%
do hospital está fechado por falta
de condições de trabalho. Nós
nos baseamos no Código de Ética Médica para suspender os
atendimentos", disse um dos diretores do corpo médico.
O artigo 23 diz que a categoria
deve "recusar-se a exercer a profissão em instituição pública ou
privada onde as condições de
trabalho não sejam dignas ou
possam prejudicar o paciente".
Metade dos leitos da UTI infantil e da enfermaria pediátrica
foram fechados, não há funcionários para transportar macas
nem segurança suficiente. Faltam medicamentos e vários
equipamentos estão quebrados:
raio X, tomógrafo, ultra-som, colonoscópio e colposcópio.
Na zona sul, o Hospital da Lagoa também interrompeu novas
internações. Ontem, o diretor da
unidade, Cláudio Manoel Soares
Nunes, que vinha denunciando
falhas no funcionamento do
hospital, foi exonerado. Na sexta-feira passada, o Tribunal de
Justiça concedeu liminar exigindo a reposição de medicamentos
no hospital, mas a medida não
havia sido cumprida até ontem.
No Hospital Geral de Ipanema
(zona sul), que chegou a suspender internações e cirurgias, houve reabastecimento de remédios
e o atendimento foi retomado.
Mas 5 das 10 salas do centro cirúrgico não estão operando
-quatro foram interditadas pela Vigilância Sanitária e a quinta
apresenta vazamento no ar-condicionado- e, dos 10 leitos de
UTI, 6 não estão funcionando
por falta de camas e equipes.
No Hospital de Andaraí (zona
norte), haverá uma assembléia
amanhã, e o pronto-atendimento poderá ser interrompido. Segundo um dos diretores, a unidade está superlotada, com pacientes pelos corredores, e faltam
itens como estetoscópio, aparelhos de pressão, termômetros,
roupa de cama e até alimentação.
As cirurgias do setor de otorrinolaringologia estão suspensas
no Hospital da Piedade (zona
oeste) por falta de material. No
Hospital e Maternidade Praça 15
(centro), o atendimento do pré-natal foi interrompido porque há
médicos de férias.
A assessoria de imprensa da
Secretaria Municipal da Saúde
admite problemas na rede, mas
afirma que estão sendo sanados.
O Sindicato dos Médicos do
Rio e o Conselho Regional de
Medicina entregaram dossiês ao
Ministério Público denunciando
irregularidades no sistema municipal de Saúde, que inclui hospitais da rede própria do município, como o Salgado Filho e o
Souza Aguiar. A Promotoria tem
mais de 450 inquéritos de apuração instaurados, vários denunciados à Justiça.
A principal disputa entre os
governos federal e municipal envolve a transferência de mais recursos para a prefeitura cobrir
gastos com a contratação de pessoal para substituir servidores federais aposentados da rede municipalizada de saúde, cujos funcionários continuaram a ser pagos pela União.
Em seis das unidades municipalizadas, um acordo previa ressarcimento ao Estado por contratações feitas para substituir
servidores federais. O Ministério
da Saúde não repassa mais verbas por afirmar que a prefeitura
não cumpriu a cláusula do termo
de cessão que prevê o ressarcimento. Para ter direito ao dinheiro, diz o ministério, a prefeitura deveria enviar uma lista detalhada dos postos ocupados pelos novos funcionários e de seus
salários. A prefeitura diz ter
cumprido o exigido pelo acordo.
Colaborou RAFAEL CARIELLO,
da Sucursal do Rio
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