São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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ENCHENTE

Cerca 33 mil estão desabrigados

Chuva não dá trégua e rio sobe mais no Acre

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RIO BRANCO

JOSÉ EDUARDO RONDON
DA AGÊNCIA FOLHA

Uma semana depois do decreto de situação de emergência em Rio Branco, a chuva ainda não parou e o rio Acre continua a subir.
Ontem às 12h, segundo a Defesa Civil, o nível do rio era de 16,73 m. Anteontem, era de 16,69 m. Choveu durante toda a madrugada de ontem, e o aeroporto chegou a fechar. O centro da capital acreana, localizado em uma área alta, quase não apresenta indícios da enchente, que já atinge 33.200 pessoas -mais de 10% da população da capital (306 mil habitantes).
Cerca de um quilômetro da região central, o quadro é outro. Mais de 2.000 casas estão alagadas, segundo a Defesa Civil. Em algumas só é possível chegar de barco, já que as ruas estão cobertas por uma água escura e malcheirosa, que continua a subir.
No bairro Taquari, a família de Maria José da Costa Macedo, 67, que está sem luz e sem água há dez dias, diz que só sai se a água atingir o primeiro andar da casa.
Ontem, faltavam cerca de 40 cm para isso acontecer. O andar térreo, onde a família tem um mercadinho, já estava inundado. "Se a gente sair, o ladrão vem e leva tudo", disse a garçonete Angelina Silva Vieira, nora de Macedo.
Desde que a água cobriu a rua, Vieira espera diariamente passar uma canoa para ir trabalhar. O canoeiro cobra R$ 0,50 para levá-la até a rua seca mais próxima.
Cleverlândia Carneiro da Silva, 30, que está há oito dias abrigada em um parque de exposição, contou que o cômodo de 9 m2 onde morava com o marido e os filhos foi arrombado e teve as telhas e o fio de eletricidade furtados.
Há casos confirmados de diarréia entre os desabrigados. A Secretaria da Saúde não havia contabilizado o número de afetados.
"Todas as pessoas que estão em abrigos e desalojadas são acompanhadas por médicos e agentes de saúde. Em casos suspeitos de doenças relacionadas ao contato com águas contaminadas, como diarréia, leptospirose e hepatite, exames laboratoriais são realizados", disse o secretário da Saúde, Francisco Eduardo de Farias
A aposentada Francisca de Lima, 67, que abrigou oito parentes, pedia ontem ajuda para alimentar os hóspedes. "Estou com oito pessoas em casa, como vou manter esse povo? A prefeitura disse que só pode dar alimentos para quem está nas escolas [abrigos]."
O Ministério da Integração Nacional, por intermédio da Secretaria Nacional de Defesa Civil, enviará 10 mil cestas básicas à capital do Estado até o final de semana.


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