São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

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Por R$ 0,50, canoa deixa moradores em casa

DA AGÊNCIA FOLHA, EM RIO BRANCO

Nos últimos oito dias, o pedreiro Raimundo Marinho Monteiro, do bairro Seis de Agosto, em Rio Branco, trocou de atividade. É canoeiro e cobra, em geral, R$ 0,50 para levar o passageiro em uma pequena canoa até a porta de casa.
À noite, a passagem chega a custar R$ 2. O transporte de um galão de água de 20 litros sai por R$ 1. Bicicletas custam R$ 0,50.
O transporte de moradores pelas ruas alagadas da capital virou alternativa de renda para muita gente que está sem poder trabalhar. São vítimas da cheia que tentam ganhar algum dinheiro.
"Não posso passar o dia fora porque tenho que tomar conta da minha casa, que está alagada. Então, estou trabalhando com a canoa", disse Monteiro.
"A catraia [canoa] garante o pão de cada dia", disse o carpinteiro José Augustinho Ferraz. Ele trabalha diariamente até a meia-noite e fatura até R$ 25 por dia. "À noite, cobro R$ 1 porque é mais perigoso. Tem cobra e jacaré."
Osmar Olímpio Felisberto, 67, que já transportava pessoas pelo rio Acre antes da enchente, está ganhando mais agora. Chega a faturar R$ 70 por dia. Antes, ganhava de R$ 20 a R$ 25. "Agora, dá mais trabalho porque tem que deixar o passageiro em casa, é mais longe [do que atravessar o rio Acre]", diz Felisberto. Segundo ele, a concorrência fez o preço baixar de R$ 0,75 para R$ 0,50.
Ontem à tarde, no bairro Seis de Agosto, uma menina de 13 anos e o amigo de 12 levavam passageiros em uma canoa. O casal Maria Ivonete Quadros e Sebastião Barros, que vendia frutas antes da enchente, também entrou no negócio. "A gente tem que fazer isso para conseguir alguma coisa", diz a mulher. "Dá para a carne e o pão", afirma o marido. Segundo ele, se o passageiro não tiver dinheiro, é transportado de graça.


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