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PM reage a "guerra de ovos'; mulher morre
Vítima foi atingida por tiro quando via festa na sacada de casa; PMs se irritaram porque ovos atingiram veículos da corporação
Policial admite ter feito
disparos, mas nega que
tenham atingido alguém;
ele foi preso, indiciado e
solto após pagar fiança
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma brincadeira de crianças
com ovos, no último dia de Carnaval em uma favela de São
Paulo, acabou resultando na
morte de uma jovem de 24 anos
que assistia à festa da sacada da
casa que dividia com a tia.
Tudo porque policiais ficaram irritados quando ovos
atingiram veículos da Polícia
Militar que circulavam pela zona oeste da cidade.
Durante a confusão, após um
dos policiais atirar para o alto,
uma bala perdida acertou a garota. Ela foi atingida na cabeça.
A auxiliar de cozinha Maria
Cícera Santos Portela, a Cicinha, estava no segundo andar
do sobrado no número 552 da
avenida São Remo, no bairro de
mesmo nome, no Jaguaré. Foi
levada com vida para o hospital,
mas não resistiu ao ferimento.
"Eles já chegaram atirando.
Minha filha saiu da confusão,
mas o policial atirou para cima,
onde ela estava. Depois rodou a
arma no dedo. Ele quis acertá-la e ainda se recusou a socorrê-la", afirma Maria Aparecida dos
Santos, 41, mãe da vítima.
Segundo ela, o PM que matou
sua filha é o soldado José Álvaro Pereira da Silva, 38, da 5ª
Companhia do 16º Batalhão da
Polícia Militar.
Fiança
Após ser reconhecido por
testemunhas, ele foi preso em
flagrante e indiciado no 93º
Distrito por homicídio culposo
(sem intenção de matar).
Em sua defesa, Silva admitiu
à Polícia Civil ter feito dois disparos -moradores afirmam ter
ouvido cinco-, mas negou que
tenham atingido alguém. Mesmo assim, pagou fiança de R$
300 e foi solto (leia ao lado).
Silva e três PMs tinham ido
ao local, por volta das 16h de
anteontem, conforme o comando do 16º BPM, para atender a suposta ocorrência de desordem e arrastão na favela.
Seus superiores classificaram a ação como "precipitada".
Aguardam, porém, o resultado
da perícia que será feita nas armas apreendidas dos quatro
PMs para depois definir a punição para cada um.
"Tudo leva a crer que o Álvaro foi o responsável pelos disparos", afirmou o tenente-coronel Wanderley Medeiros, comandante do 16º BPM. A PM
diz investigar também se outras pessoas fizeram disparos.
Preventivamente, todos foram afastados das ruas até que
sejam concluídos os inquéritos
das polícias Civil e Militar, que
poderão determinar a expulsão
deles da corporação.
Os quatro continuarão trabalhando em serviços administrativos. Segundo a assessoria
de imprensa da PM, o nome dos
outros não seriam divulgados.
Revolta
Após o episódio, a comunidade da favela protestou com cartazes e faixas na frente do 16º
BPM, pedindo justiça.
O mesmo ocorreu ontem no
enterro da vítima, no cemitério
São Luís, em Santo Amaro (zona sul). Os moradores fretaram
dois ônibus para o velório. No
caixão, colocaram uma faixa
com a frase: "Cicinha, sempre
vamos te amar".
Maria Cícera era de Alagoas
e estava em São Paulo havia
cinco anos. O pai mora em
Pernambuco.
Filha única e solteira, dividia
com a tia um sobrado numa rua
sem asfalto e com esgoto a céu
aberto. Era auxiliar de cozinha
na Faculdade de Educação da
USP, no Butantã.
"Eu era a mãe e o pai dela",
disse Maria Aparecida. "Ela era
uma pessoa sorridente, alegre e
bastante prestativa."
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