São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

80 presídios enfrentam "greve branca" em São Paulo

Detentos se recusam a comparecer a audiências e a trabalhar nas unidades

Segundo parentes, movimento teria sido causado por maus-tratos; secretário da área não se manifestou sobre ação

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Oitenta dos 144 presídios do Estado de São Paulo, todos eles com a presença de integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), enfrentaram ontem um dia de "greve branca" -os presos se recusam a deixar suas celas para comparecer às audiências judiciais e a realizar trabalhos dentro das unidades.
Integrantes de entidades de defesa dos direitos humanos disseram ter sido procurados por parentes dos detentos ontem e receberam a informação de que a "greve branca" é um "protesto em solidariedade aos detentos que estão em três presídios da região Oeste".
Segundo os relatos dos parentes dos detentos, nas penitenciárias 1 e 2 de Presidente Venceslau (620 km de SP), no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes (589 km de SP) e em Avaré (262 km de SP) estariam ocorrendo espancamentos contra presos e humilhações contra seus visitantes.
No CRP de Presidente Bernardes e na Penitenciária 2 de Venceslau estão, segundo o governo paulista, os chefes da facção criminosa PCC.
Procurado pela reportagem, o secretário da Administração Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto, não quis se pronunciar sobre os motivos da paralisação dos detentos, que não tem data para terminar.
Na semana passada, no CRP de Presidente Bernardes, onde vigora o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), um preso arrancou os dentes de um funcionário com um soco. A agressão teria sido motivada pelo fato de o funcionário não deixar o detento limpar sua cela.
A agressão aumentou a tensão nos presídios paulistas, que já era instável desde o dia 7 deste mês, quando três chefes do PCC -Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, e Fabiano Alves de Souza, o Guga Paca- foram transferidos da Penitenciária 2 de Venceslau para o CRP.
Já alguns funcionários do sistema prisional disseram acreditar que a "greve branca" foi causada porque, na última segunda-feira, o homem apontado como um dos maiores contrabandistas do país, Law Kin Chong, foi autorizado a deixar a Penitenciária José Parada Netto, em Guarulhos (Grande São Paulo), e ir à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Law teria ido visitar o pai, que está internado. Os demais presos teriam se revoltado em razão de o prisioneiro ter ido ao hospital, escoltado por mais de dez PMs, dentro de uma ambulância e não em um carro especial para transportar detentos.
Na versão dos funcionários, os presos afirmam que houve privilégio a Law. Isso porque, muitas vezes, presos doentes deixam de ser removidos das penitenciárias onde estão porque a Administração Penitenciária alega falta de condições de segurança para retirá-los dos presídios.
Questionado por escrito, Ferreira Pinto não se manifestou sobre o suposto privilégio concedido a Law.


Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Com ajuda de celular, grupo de 13 pessoas é resgatado em mata de Mogi das Cruzes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.