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80 presídios enfrentam "greve branca" em São Paulo
Detentos se recusam a comparecer a audiências e a trabalhar nas unidades
Segundo parentes, movimento teria sido causado por maus-tratos; secretário da área não se manifestou sobre ação
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Oitenta dos 144 presídios do
Estado de São Paulo, todos eles
com a presença de integrantes
da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital),
enfrentaram ontem um dia de
"greve branca" -os presos se
recusam a deixar suas celas para comparecer às audiências judiciais e a realizar trabalhos
dentro das unidades.
Integrantes de entidades de
defesa dos direitos humanos
disseram ter sido procurados
por parentes dos detentos ontem e receberam a informação
de que a "greve branca" é um
"protesto em solidariedade aos
detentos que estão em três presídios da região Oeste".
Segundo os relatos dos parentes dos detentos, nas penitenciárias 1 e 2 de Presidente
Venceslau (620 km de SP), no
CRP (Centro de Readaptação
Penitenciária) de Presidente
Bernardes (589 km de SP) e em
Avaré (262 km de SP) estariam
ocorrendo espancamentos
contra presos e humilhações
contra seus visitantes.
No CRP de Presidente Bernardes e na Penitenciária 2 de
Venceslau estão, segundo o governo paulista, os chefes da facção criminosa PCC.
Procurado pela reportagem,
o secretário da Administração
Penitenciária, Antonio Ferreira Pinto, não quis se pronunciar sobre os motivos da paralisação dos detentos, que não
tem data para terminar.
Na semana passada, no CRP
de Presidente Bernardes, onde
vigora o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), um preso arrancou os dentes de um funcionário com um soco. A agressão
teria sido motivada pelo fato de
o funcionário não deixar o detento limpar sua cela.
A agressão aumentou a tensão nos presídios paulistas, que
já era instável desde o dia 7 deste mês, quando três chefes do
PCC -Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, Abel
Pacheco de Andrade, o Vida Loka, e Fabiano Alves de Souza, o
Guga Paca- foram transferidos da Penitenciária 2 de Venceslau para o CRP.
Já alguns funcionários do sistema prisional disseram acreditar que a "greve branca" foi
causada porque, na última segunda-feira, o homem apontado como um dos maiores contrabandistas do país, Law Kin
Chong, foi autorizado a deixar a
Penitenciária José Parada Netto, em Guarulhos (Grande São
Paulo), e ir à Santa Casa de Misericórdia de São Paulo.
Law teria ido visitar o pai,
que está internado. Os demais
presos teriam se revoltado em
razão de o prisioneiro ter ido ao
hospital, escoltado por mais de
dez PMs, dentro de uma ambulância e não em um carro especial para transportar detentos.
Na versão dos funcionários,
os presos afirmam que houve
privilégio a Law. Isso porque,
muitas vezes, presos doentes
deixam de ser removidos das
penitenciárias onde estão porque a Administração Penitenciária alega falta de condições
de segurança para retirá-los
dos presídios.
Questionado por escrito,
Ferreira Pinto não se manifestou sobre o suposto privilégio
concedido a Law.
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