São Paulo, quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

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Presidente do Metrô deixa cargo 40 dias após acidente

Em carta ao governador, Luiz Carlos David afirma que decisão é "irrevogável'

Ele havia sido demitido anteontem pelo secretário dos Transportes, que irá acumular a função até definir substituto

ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Alegando motivos pessoais, o presidente do Metrô de São Paulo, Luiz Carlos David, apresentou na noite de ontem seu pedido de demissão.
Na carta, destinada ao governador José Serra (PSDB), David manifesta sua "honra em trabalhar ao lado" do tucano, cita algumas de suas realizações à frente da estatal e diz que a decisão de deixar o cargo é "irrevogável".
O tom cordial do documento oculta, porém, o clima da despedida. David foi demitido pelo telefone, anteontem, pelo secretário dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, José Luiz Portella, após uma acalorada discussão.
Segundo a Folha apurou, o secretário não teria gostado de saber que o presidente estava reunido com assessores na sede da estatal para discutir a emissão de uma nota em resposta à Rede Globo, que exibiu reportagem sobre relatório do Metrô apontando "não conformidade" com as obras.
"Você estão todos demitidos", teria tido aos gritos o secretário, de acordo com um amigo de David.
Nem Portella nem o ex-presidente foram encontrados para comentar o assunto.
A relação entre os dois estava desgastada desde o acidente em 12 de janeiro, quando morreram sete pessoas no desabamento de um túnel em Pinheiros. Nos últimos dias, porém, com a divulgação de reportagens sobre problemas na obra da linha 4-amarela do metrô, a situação ficou ainda mais complicada.
O secretário, que pela hierarquia deveria receber a carta de demissão, nem é citado nela.
De acordo com amigos de David, o ex-presidente foi convencido a escrever uma carta pedindo demissão pelo deputado federal Arnaldo Madeira -que não confirmou a tarefa.
Dessa forma, ele poderá ser reaproveitado no governo, assim como quando perdeu o cargo de secretário-adjunto dos Transportes em 2003.
Em nota enviada ontem à noite, em que grafa erroneamente o nome de ex-presidente, o governo só fez elogios ao demissionário.
"Luís [sic] Carlos David atua há mais de três décadas na área de transportes, sendo reconhecido como um dos mais competentes executivos da administração pública do país", diz trecho do texto.

Problemas
Portella vai acumular interinamente o cargo de presidente do Metrô, já que ainda não foi definido um substituto. Com a suposta recusa do coordenador de planejamento e gestão da secretaria, Renato Viegas, três nomes eram cotados ontem pelos tucanos paulistas.
Na lista estão o ex-ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, o ex-presidente do Metrô Plínio Assman e o diretor de Engenharia e Construção do Metrô, Luiz Carlos Pereira Grillo.
Além de buscar um nome para a vaga, o secretário precisará ainda contornar uma ameaça de demissão coletiva na estatal. O motivo seria a forma como ocorreu a demissão, que para muitos funcionários foi considerada um desrespeito a um profissional com mais de 30 anos de dedicação.
Na tarde de ontem, o Palácio dos Bandeirantes foi informado da possível demissão. Na lista estariam gerentes, entre eles do departamento jurídico.
Apesar de tucanos avaliarem ter sido um erro político a demissão, porque transferiria para o Palácio dos Bandeirantes um problema do Consórcio Via Amarela, Portella teve o aval de Serra para demitir David.
Na avaliação do governo, o demissionário era lento para dar respostas aos problemas apontados pela imprensa.


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