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Presidente do Metrô deixa cargo 40 dias após acidente
Em carta ao governador, Luiz Carlos David afirma que decisão é "irrevogável'
Ele havia sido demitido anteontem pelo secretário dos Transportes, que irá acumular a função
até definir substituto
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Alegando motivos pessoais, o
presidente do Metrô de São
Paulo, Luiz Carlos David, apresentou na noite de ontem seu
pedido de demissão.
Na carta, destinada ao governador José Serra (PSDB), David manifesta sua "honra em
trabalhar ao lado" do tucano,
cita algumas de suas realizações à frente da estatal e diz que
a decisão de deixar o cargo é
"irrevogável".
O tom cordial do documento
oculta, porém, o clima da despedida. David foi demitido pelo
telefone, anteontem, pelo secretário dos Transportes Metropolitanos de São Paulo, José
Luiz Portella, após uma acalorada discussão.
Segundo a Folha apurou, o
secretário não teria gostado de
saber que o presidente estava
reunido com assessores na sede da estatal para discutir a
emissão de uma nota em resposta à Rede Globo, que exibiu
reportagem sobre relatório do
Metrô apontando "não conformidade" com as obras.
"Você estão todos demitidos", teria tido aos gritos o secretário, de acordo com um
amigo de David.
Nem Portella nem o ex-presidente foram encontrados para comentar o assunto.
A relação entre os dois estava
desgastada desde o acidente
em 12 de janeiro, quando morreram sete pessoas no desabamento de um túnel em Pinheiros. Nos últimos dias, porém,
com a divulgação de reportagens sobre problemas na obra
da linha 4-amarela do metrô,
a situação ficou ainda mais
complicada.
O secretário, que pela hierarquia deveria receber a carta de
demissão, nem é citado nela.
De acordo com amigos de
David, o ex-presidente foi convencido a escrever uma carta
pedindo demissão pelo deputado federal Arnaldo Madeira
-que não confirmou a tarefa.
Dessa forma, ele poderá ser
reaproveitado no governo, assim como quando perdeu o cargo de secretário-adjunto dos
Transportes em 2003.
Em nota enviada ontem à
noite, em que grafa erroneamente o nome de ex-presidente, o governo só fez elogios ao
demissionário.
"Luís [sic] Carlos David atua
há mais de três décadas na área
de transportes, sendo reconhecido como um dos mais competentes executivos da administração pública do país", diz trecho do texto.
Problemas
Portella vai acumular interinamente o cargo de presidente
do Metrô, já que ainda não foi
definido um substituto. Com a
suposta recusa do coordenador
de planejamento e gestão da secretaria, Renato Viegas, três
nomes eram cotados ontem pelos tucanos paulistas.
Na lista estão o ex-ministro
Luiz Carlos Bresser Pereira, o
ex-presidente do Metrô Plínio
Assman e o diretor de Engenharia e Construção do Metrô,
Luiz Carlos Pereira Grillo.
Além de buscar um nome para a vaga, o secretário precisará
ainda contornar uma ameaça
de demissão coletiva na estatal.
O motivo seria a forma como
ocorreu a demissão, que para
muitos funcionários foi considerada um desrespeito a um
profissional com mais de 30
anos de dedicação.
Na tarde de ontem, o Palácio
dos Bandeirantes foi informado da possível demissão. Na lista estariam gerentes, entre eles
do departamento jurídico.
Apesar de tucanos avaliarem
ter sido um erro político a demissão, porque transferiria para o Palácio dos Bandeirantes
um problema do Consórcio Via
Amarela, Portella teve o aval de
Serra para demitir David.
Na avaliação do governo, o
demissionário era lento para
dar respostas aos problemas
apontados pela imprensa.
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