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Secretário-adjunto desloca 9 PMs para escoltar filha e ex
Por 23 dias, policiais ficaram no Guarujá a pedido de auxiliar do secretário da Segurança
Por meio de uma nota oficial, Secretaria da Segurança Pública afirma que havia uma situação concreta de risco
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Nove policiais militares fizeram, durante 23 dias consecutivos (de 19 de janeiro a 10 de fevereiro), inclusive durante o
Carnaval, a escolta pessoal da
ex-mulher e da filha de seis
anos do atual secretário-adjunto da Segurança Pública de São
Paulo, Lauro Malheiros Neto,
durante o período em que elas
passaram férias em praias do
Guarujá (87 km de São Paulo).
De acordo com decreto da
Secretaria da Casa Militar do
Estado de São Paulo (número
48.526, de 4 de março de 2004),
órgão responsável pela guarda
pessoal de autoridades do Estado, não há previsão de serviços
de escolta pessoal para ex-mulheres ou filhos de subsecretários, caso de Malheiros Neto.
O decreto prevê escolta apenas para o governador, primeira-dama e seus familiares; vice-governador e familiares; ex-governadores e familiares (pelo
período de duração do mandato subseqüente) e outros dignitários, em visita oficial ao Estado, por ordem do governador
ou do chefe da Casa Militar.
Em casos de ameaças ou risco de morte, desde que haja
comprovação de uma investigação policial, qualquer cidadão pode solicitar ao Estado
proteção especial.
Ontem, a Folha pediu entrevista com o secretário da Segurança Pública do governo José
Serra (PSDB), Ronaldo Marzagão, e com o seu vice, Malheiros Neto, mas eles não se manifestaram. Em nota oficial, a secretaria afirmou que havia uma
situação concreta de risco.
Além dos nove PMs que se
revezaram na escolta da ex-mulher do secretário-adjunto
da Segurança Pública e de seu
filho, um carro descaracterizado da polícia, uma Blazer, também ficou à disposição da filha
e da ex-mulher de Malheiros.
Seis quilômetros
Mãe e filha ficaram hospedadas num apartamento da ex-sogra de Malheiros Neto, localizado bem na frente de uma das
bases da Polícia Militar no Guarujá. Já os PMs, conforme algumas das notas fiscais emitidas
em nome da Secretaria da Segurança Pública, ficaram no
Hotel Albamar, distante cerca
de seis quilômetros do prédio.
Segundo o presidente da Comissão de Combate ao Nepotismo da OAB (Ordem dos Advogados) de São Paulo, Luciano
Caparroz Pereira dos Santos,
na lei não existe nenhuma referência que dê direito aos parentes de secretários-adjuntos do
Estado de manterem escolta.
"Existem casos de bom senso, como o secretário da Segurança Pública e da Administração Penitenciária. Isso se estende aos subsecretários porque eles estão na mesma função, mas isso, de forma alguma,
não pode ser estendido para os
familiares deles", disse Santos.
"Isso seria um desvio de função ou o mau uso dos recursos
públicos. Pode até não ser ilegal, mas não é moral. Isso tudo
diante do complexo problema
que passamos hoje, de não saber separar a coisa pública da
coisa privada", continuou.
"O Estado só pode fornecer
esse tipo de serviço [escolta feita por PMs] para o servidor público, e os casos específicos estão previstos no decreto da Casa Militar. Até porque todo cidadão queria que sua família
fosse escoltada pela PM. Esse
efetivo tinha de estar nas ruas."
As notas fiscais de 31 de janeiro (R$ 834) e de 5 (R$ 960) e
10 (R$ 204) de fevereiro, todas
referentes às despesas de hospedagens dos PMs no hotel do
Guarujá, serão analisadas pela
Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa.
Malheiros Neto pode ter de
ressarcir os cofres públicos pelos gastos com a escolta.
Colaborou ROGÉRIO PAGNAN, da Reportagem Local
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