São Paulo, segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

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Governo quer "videogame" para formar motoristas

Alunos terão de passar por treinamento em simulador antes de aulas na rua

Aparelho, que pode custar até R$ 20 mil para autoescolas, simula a condução de um veículo à noite, sob chuva e em rodovia com neblina


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O motorista terá que passar por aulas num tipo de videogame mais sofisticado para tirar a carteira de habilitação no país.
A mudança na lei, para tornar obrigatório o uso de simuladores de direção por alunos de autoescolas, deverá ser oficializada no segundo semestre.
O presidente do Contran (Conselho Nacional de Trânsito) e do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), Alfredo Peres da Silva, afirma que pretende ainda em 2010 fixar prazos para a exigência.
A intenção do governo federal é que, antes do treinamento na rua, os alunos façam aulas nesses equipamentos.
Eles simulam um carro por meio de programa de computador, inclusive para que os motoristas vivenciem situações de risco que hoje não são testadas.
Por exemplo, a condução de um veículo à noite, tanto em rodovia quanto em trecho urbano, com chuva e com neblina.
Peres da Silva disse à Folha que vai avaliar tanto a substituição de parte das aulas práticas pelo treino nos simuladores como a de complementar a carga horária com a tecnologia.
Quem tira a habilitação precisa hoje passar por 65 aulas nas autoescolas (45 teóricas e 20 práticas). Até 2008, eram só 45 (30 e 15, respectivamente).
O Denatran deu um passo para a mudança há dois meses, por meio de um convênio com a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
O órgão de trânsito autorizou um repasse de R$ 650 mil para que a instituição faça um projeto sobre os simuladores.
Professor titular da UFSC e doutor em engenharia na Alemanha, Carlos Alberto Schneider diz que precisa apresentar até julho três protótipos: um simples (com custo para as autoescolas de R$ 500 a R$ 800), um intermediário (de R$ 5.000 a R$ 7.000) e um mais sofisticado (acima de R$ 20 mil).
"Ele vai reproduzir as adversidades em rodovias e trechos urbanos. Dá para simular condições de risco acima do normal, semelhante à indústria aeronáutica", conta Schneider, referindo-se à formação de pilotos de avião, obrigados a usar simuladores antes de voar.
O engenheiro mecânico Manuel Steidle, ligado à Fundação Certi (centro sem fins lucrativos, que pesquisa tecnologias inovadoras), parceira da UFSC, diz que um dos países em que o sistema é mais difundido é a Holanda, onde dois terços da formação são feitos em simuladores. Também é utilizado em parte do Reino Unido e França.
No Brasil, uma resolução do Contran prevê desde 1998 que as autoescolas tenham em suas instalações "um simulador de direção ou veículo estático".
Na prática, porém, os alunos não precisam usá-los e quase todos os equipamentos existentes não têm nem utilidade (em vez de computadores, muitos são uma estrutura de madeira com banco de carro, direção, marcha e freio de mão, sem simulação de trânsito).
O Detran-SP até suspendeu a exigência por falta de aparelhos homologados no Denatran.
O exemplo mais sofisticado de simuladores em autoescolas brasileiras começou a ser testado há menos de seis meses, em Pouso Alegre (MG). Lá, uma rede que conta com 12 autoescolas firmou uma parceria com a Armaroli, empresa que desde 2003 trabalha com aparelhos para entretenimento e para formação de pilotos profissionais, inclusive de F-1.
O aparelho foi criado a partir de um VW Fox e simula mais de dez situações de risco (como aquaplanagem). Desde outubro, foi testado no treinamento de 25 motoristas.


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