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Governo quer "videogame" para formar motoristas
Alunos terão de passar por treinamento em simulador antes de aulas na rua
Aparelho, que pode custar até R$ 20 mil para autoescolas, simula a condução de um veículo à noite, sob chuva e em rodovia com neblina
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O motorista terá que passar
por aulas num tipo de videogame mais sofisticado para tirar a
carteira de habilitação no país.
A mudança na lei, para tornar
obrigatório o uso de simuladores de direção por alunos de autoescolas, deverá ser oficializada no segundo semestre.
O presidente do Contran
(Conselho Nacional de Trânsito) e do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito),
Alfredo Peres da Silva, afirma
que pretende ainda em 2010 fixar prazos para a exigência.
A intenção do governo federal é que, antes do treinamento
na rua, os alunos façam aulas
nesses equipamentos.
Eles simulam um carro por
meio de programa de computador, inclusive para que os motoristas vivenciem situações de
risco que hoje não são testadas.
Por exemplo, a condução de
um veículo à noite, tanto em rodovia quanto em trecho urbano, com chuva e com neblina.
Peres da Silva disse à Folha
que vai avaliar tanto a substituição de parte das aulas práticas pelo treino nos simuladores como a de complementar a
carga horária com a tecnologia.
Quem tira a habilitação precisa hoje passar por 65 aulas
nas autoescolas (45 teóricas e
20 práticas). Até 2008, eram só
45 (30 e 15, respectivamente).
O Denatran deu um passo
para a mudança há dois meses,
por meio de um convênio com
a UFSC (Universidade Federal
de Santa Catarina).
O órgão de trânsito autorizou um repasse de R$ 650 mil
para que a instituição faça um
projeto sobre os simuladores.
Professor titular da UFSC e
doutor em engenharia na Alemanha, Carlos Alberto Schneider diz que precisa apresentar
até julho três protótipos: um
simples (com custo para as autoescolas de R$ 500 a R$ 800),
um intermediário (de R$ 5.000
a R$ 7.000) e um mais sofisticado (acima de R$ 20 mil).
"Ele vai reproduzir as adversidades em rodovias e trechos
urbanos. Dá para simular condições de risco acima do normal, semelhante à indústria aeronáutica", conta Schneider,
referindo-se à formação de pilotos de avião, obrigados a usar
simuladores antes de voar.
O engenheiro mecânico Manuel Steidle, ligado à Fundação
Certi (centro sem fins lucrativos, que pesquisa tecnologias
inovadoras), parceira da UFSC,
diz que um dos países em que o
sistema é mais difundido é a
Holanda, onde dois terços da
formação são feitos em simuladores. Também é utilizado em
parte do Reino Unido e França.
No Brasil, uma resolução do
Contran prevê desde 1998 que
as autoescolas tenham em suas
instalações "um simulador de
direção ou veículo estático".
Na prática, porém, os alunos
não precisam usá-los e quase
todos os equipamentos existentes não têm nem utilidade
(em vez de computadores,
muitos são uma estrutura de
madeira com banco de carro,
direção, marcha e freio de mão,
sem simulação de trânsito).
O Detran-SP até suspendeu a
exigência por falta de aparelhos
homologados no Denatran.
O exemplo mais sofisticado
de simuladores em autoescolas
brasileiras começou a ser testado há menos de seis meses, em
Pouso Alegre (MG). Lá, uma rede que conta com 12 autoescolas firmou uma parceria com a
Armaroli, empresa que desde
2003 trabalha com aparelhos
para entretenimento e para
formação de pilotos profissionais, inclusive de F-1.
O aparelho foi criado a partir
de um VW Fox e simula mais de
dez situações de risco (como
aquaplanagem). Desde outubro, foi testado no treinamento
de 25 motoristas.
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