|
Próximo Texto | Índice
JUSTIÇA
Diretores da Porto Seguro e policiais são acusados de montar esquema para evitar pagamento de indenizações
Promotoria denuncia fraude contra clientes de seguradora
ALEXANDRE HISAYASU
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público apresentou ontem denúncia à Justiça contra dois diretores e um gerente da
Porto Seguro por participação em
um suposto esquema de fraude
contra segurados. Também foram denunciados três delegados e
um escrivão da Polícia Civil, um
advogado e três proprietários de
uma empresa que prestava serviços para a Porto Seguro. O gerente e o escrivão tiveram a prisão
preventiva decretada pela Justiça.
Segundo o Ministério Público,
os acusados montaram um esquema de fraude para não pagar
indenizações a segurados que tinham o veículo roubado ou furtado. Esses clientes acabaram indevidamente acusados de tentar
fraudar o seguro.
Montagens
Entre 1999 e 2004, cerca de 600
inquéritos foram abertos -sempre na mesma delegacia, o 27º DP
(Campo Belo)- para investigar
pessoas acusadas de vender seus
carros no Paraguai antes de pedir
indenização à Porto Seguro por
roubo ou furto do veículo.
O Ministério Público concluiu
que as acusações eram montadas,
com documentos falsos, para justificar o não-pagamento de indenizações pela perda dos veículos.
Em cerca de 120 dos 600 casos,
os promotores constataram que a
suposta negociação no Paraguai
foi "comprovada" pela seguradora com papéis falsificados. Os demais casos ainda estão sendo investigados.
A Porto Seguro não quis comentar o caso. Afirmou, em nota
oficial, que só se pronunciaria
após tomar conhecimento do teor
da denúncia.
A Folha teve acesso a uma cópia
da denúncia encaminhada ontem
à 23ª Vara Criminal. Na denúncia,
consta que os acusados "obtiveram, de forma continuada, com a
colaboração dos delegados titulares e do escrivão de polícia, durante cinco anos, vantagem ilícita,
em benefício final das seguradoras, que se constituiu no não-pagamento das indenizações relativas a cada veículo produto de furto ou de roubo, em prejuízo dos
segurados".
Denunciados
Foram denunciados por crimes
de formação de quadrilha, estelionato, falso testemunho, uso de
documento falso e denunciação
caluniosa: o diretor do departamento jurídico da Porto Seguro,
Luiz Paulo Horta de Siqueira, o
diretor do departamento de sinistros, Nelson Peixoto, e o gerente
do departamento jurídico, Joel
Rebellato de Melo; os delegados
Reinaldo Correia, Enjolras Rello
de Araújo e Guaracy Moreira Filho; o escrivão Geraldo Picatiello
Júnior; o advogado Carlos Alberto Manfredini; e os empresários
Nanci Concílio de Freitas, Marcos
Rodrigo Concílio de Freitas e Karla Concílio de Freitas, donos de
uma empresa que apura se há irregularidades em pedidos de pagamento de seguro.
O escrivão Picatiello, que se
aposentou no início do ano, e o
gerente Rebellato de Melo também tiveram a prisão preventiva
decretada pelo Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais e
Polícia Judiciária) por acusação
de extorsão contra um segurado.
Até o fechamento desta edição,
eles não haviam sido presos.
Segundo o Ministério Público,
os acusados providenciavam documento de venda do veículo do
segurado, supostamente registrado em cartórios do Paraguai, com
data anterior ao pedido do seguro. O cliente era então pressionado pelos funcionários da seguradora a desistir da indenização.
Caso contrário, era aberto um inquérito policial no 27º DP (Campo Belo) contra o segurado por
crimes de estelionato e fraude.
As apurações da Promotoria
constataram que sempre os mesmos policiais participavam das
investigações contra os clientes a
pedido da seguradora.
Em alguns casos, segundo o Ministério Público, segurados pagaram propinas de US$ 3 mil para
policiais do 27º DP para não serem indiciados. Depois, ainda pagaram para a seguradora pelos
gastos realizados para investigar a
suposta fraude.
A investigação foi conduzida
pelos promotores do Gecep (Grupo de Atuação Especial e Controle
Externo da Atividade Policial),
Dipo e Corregedoria da Polícia
Civil.
Próximo Texto: Empresa é a 3ª maior no setor Índice
|