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JUVENTUDE ENCARCERADA
Segundo entidades, situação de adolescentes em penitenciária de Taubaté contraria autorização judicial
Em presídio, interno perde até o banho de sol
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma estrutura montada para
conter presos em RDD (regime
disciplinar diferenciado), indicado para os detentos mais perigosos, mas com normas ainda mais
rígidas. Assim entidades de direitos humanos e defesa do menor
descreveram ontem as condições
de mais de 200 internos da Febem
(Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) transferidos há
exatamente uma semana para um
presídio em Taubaté (SP).
Segundo Antonio Maffezoli,
coordenador da comissão da
criança e do adolescente do Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), os internos entre 14 e 21 anos
ficam trancafiados 24 horas por
dia, sem direito a banho de sol.
Também segundo as entidades,
que visitaram ontem o presídio
em Taubaté, não há nenhum funcionário da Febem na unidade,
somente agentes penitenciários.
"Os internos foram abandonados pela Febem. A situação é muito pior do que a de presos em
RDD e contraria o que a Febem se
comprometeu com a Justiça",
afirmou Maffezoli.
Ontem, 218 internos estavam
nas celas antes destinadas a líderes do PCC (Primeiro Comando
da Capital). O CRP (Centro de
Readaptação Penitenciária) de
Taubaté foi estruturado para abrigar a cúpula da facção criminosa
que atua nos presídios paulistas,
mas depois passou a receber mulheres sob as regras do RDD ou do
RDE (uma versão mais amena do
regime diferenciado).
Esse foi o local escolhido pelo
governo tucano de Geraldo Alckmin para abrigar os internos do
complexo da Febem em Franco
da Rocha (Grande SP) enquanto
os prédios, destruídos pelas últimas rebeliões, são reformados.
A transferência, de três semanas, foi autorizada pela Corregedoria Geral da Justiça. Os adolescentes começaram a chegar a
Taubaté na segunda-feira da semana passada. Só que, segundo as
entidades, a situação verificada
ontem contraria as garantias
apresentadas pela Febem para
conseguir a autorização judicial.
Tratamento humano
Parecer de um juiz auxiliar da
Corregedoria salientou que a Febem deveria assegurar "tratamento digno e humano" no período em que os internos ficarem
em Taubaté. Entre as ressalvas para a autorização de transferência
estão "pelo menos um período de
banho de sol" e a continuidade de
atendimento psicossocial.
Segundo as entidades, no entanto, internos e a própria direção
do presídio afirmaram que agentes da Febem ainda não começaram a trabalhar na unidade. O
presídio é mantido por agentes
penitenciários, que não têm experiência com internos.
"Por isso mesmo a direção da
unidade disse que não sabe o que
fazer a não ser deixá-los trancados, sem nenhuma atividade",
afirmou Maffezoli.
Os internos estão trancafiados,
três em cada cela de 2 m x 4 m.
"No caso dos presos perigosos no
RDD, ficava um detento por cela e
há pelo menos uma hora de sol
por dia. Nessa comparação, a situação dos adolescentes é bem
pior", afirmou o coordenador da
comissão da criança e do adolescente do Condepe.
Segundo Ariel de Castro Alves,
coordenador estadual do Movimento Nacional de Direitos Humanos, um relatório dessa visita
será enviado hoje à presidência da
Febem e à Corregedoria Geral de
Justiça. "Essa situação é suficiente
para revogar a autorização judicial de transferência."
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