São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2006

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URBANISMO

Programa prevê que a prefeitura refaça o asfalto e plante árvores e que os comerciantes reformem calçadas e fachadas

Contra shoppings, ruas tomam banho de loja

RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL

A Prefeitura de São Paulo decidiu revitalizar, em parceria com a iniciativa privada, dez ruas com perfil comercial em bairros diferentes da cidade. A intenção é dar nova roupagem às ruas e fortalecer o setor, abalado pelo crescimento dos shoppings centers.
Batizado de Programa de Ruas Comerciais, o projeto prevê recapeamento asfáltico, substituição de postes de iluminação, plantio de árvores, além da padronização das calçadas e fachadas para transformar as ruas em shoppings abertos. A assinatura do protocolo de intenções com os representantes das associações das ruas será no dia 27 de março.
O Orçamento de 2006 da prefeitura reserva R$ 10 milhões para o programa, valor que, segundo o município, deve ser suficiente para as dez primeiras ruas.
Estão na lista as ruas Augusta (trecho da avenida Paulista até a rua Estados Unidos), a Teodoro Sampaio (Pinheiros), a 12 de Outubro (Lapa), a Milton da Rocha (Vila Maria), da Mooca, no bairro do mesmo nome, a do Oriente (Brás), Silva Bueno (Ipiranga), a Normandia (Moema) e as avenidas Santa Catarina (Jabaquara) e Mateo Bei (São Mateus).
Segundo o projeto, os custos serão divididos. A prefeitura entra com o recapeamento das ruas, com a substituição de lâmpadas de mercúrio pelas de sódio (amareladas, mais econômicas) e com o projeto paisagístico, sem custos para os comerciantes. Os empresários serão responsáveis pelas calçadas e pelas fachadas -que, por lei, já são obrigações deles.
Estimulados pela prefeitura, alguns empresários, como no caso da rua Normandia, discutem custear o aterramento da fiação aérea. O alto preço (cerca de R$ 14 mil o metro linear) é o empecilho para estender às demais ruas.
A articulação do projeto foi feita pela Secretaria de Coordenação das Subprefeituras e pela Fecomércio (Federação do Comércio do Estado de São Paulo). A inspiração foi a revitalização das ruas João Cachoeira (Itaim Bibi) em 2003, e Oscar Freire, cujas obras devem acabar em julho.
"Queremos retomar o papel das ruas abertas de São Paulo", disse Walter Feldman, secretário de Coordenação das Subprefeituras.
A prefeitura promete também que só os camelôs com TPU (Termo de Permissão de Uso) poderão trabalhar, ainda assim com a recomendação para que melhorem o aspecto visual das barracas.
A partir da assinatura do protocolo de intenções, os líderes das associações de ruas terão 40 dias para apresentar um projeto. Haverá prazo para início das obras -em geral, 30 dias.
Segundo a prefeitura, o custo de reforma da calçada não é caro -cerca de R$ 65 o m2. Assim, uma calçada de dez metros custaria R$ 650. Caso não haja número suficiente de interessados na revitalização, uma outra rua comercial será selecionada.
O objetivo, diz Feldman, é estender o projeto a outras ruas até 2008. Existe a possibilidade de que, em parceria com a São Paulo Turismo, sejam criados roteiros de compras para valorizar essas ruas. Há 69 ruas ou avenidas na cidade com perfil comercial.
Segundo Felippe Naufel, coordenador do projeto pela secretaria e presidente do conselho de ruas comerciais da Fecomércio, o principal argumento para arregimentar empresários é o retorno pós-reforma. Presidente da associação de comerciantes da João Cachoeira na ocasião da reforma da rua, Naufel disse que o movimento aumentou 20% em 2004 e 11% em 2005, anos seguintes à obra. "Ele [comerciante] não vai ficar rico se fizer [revitalização]. Mas terá mais chance de quebrar se não a fizer."
Naufel, também comerciante da João Cachoeira, se ampara na concorrência com shoppings centers para justificar o raciocínio. Dados da Fecomércio apontam que o faturamento do setor cresceu 3,2% em 2005 na Grande São Paulo. O dos shoppings em 2005 aumentou 13%, segundo a Alshop (Associação Brasileira dos Lojistas de Shopping Center).


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