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Bicicletas alugadas são mais para lazer, diz ONG
Organização Parada Vital, responsável pelo projeto UseBike nas estações de SP, oferece alternativa ao trânsito
GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA
A cena contrastou com o caos
vivido na metrópole, na última
terça. Atendentes de um bicicletário instalado à porta da estação Paraíso do metrô (zona
sul de SP), uma das mais movimentadas, observavam a rua
com olhos de tédio profundo.
Esperavam por alguém que retirasse uma das oito bicicletas
brancas e azuis do projeto UseBike, que começou a funcionar
há seis meses. O empréstimo é
grátis na primeira hora e custa
R$ 2 a cada hora seguinte.
Nas estações Vila Mariana,
Marechal Deodoro, Santa Cecília, Sé, Vila Madalena, Santana
e Barra Funda, visitadas pela
Folha durante toda a semana, o
baixo movimento se repetiu,
com chuva ou com sol. "Dia de
semana é assim, pacato", explicou uma atendente, que preferiu o anonimato.
A ideia é oferecer alternativa
de transporte leve integrado à
rede de metrô, para facilitar
viagens pelos arredores das estações. Nada muito ambicioso,
se comparado ao projeto Vélib,
de Paris, referência mundial,
que começou com 20 mil bicicletas em 2007. O similar paulistano deu pontapé inicial com
40 unidades em quatro pontos
da Linha Vermelha do Metrô e
chega hoje a 202 espalhadas
por 22 bicicletários.
Mas os paulistanos ainda não
despertaram para o objetivo
central do projeto. A expansão
do sistema de empréstimo de
bikes, módica para uma cidade
de 11 milhões de habitantes, só
foi garantida pelo sucesso que
conquistou nos fins de semana.
"As bicicletas estão sendo usadas mais para lazer", diz Ismael
Caetano, presidente da ONG
Parada Vital, responsável pela
implementação do sistema.
No sábado e no domingo passados, foram feitas 410 locações
nos dois dias, somadas as de todas as estações. Para efeito de
comparação, na segunda-feira,
esse número foi de 120 saídas
em toda a capital, o que representou uma queda de 41,5%.
Ainda assim, quem sacou que
o UseBike pode ser uma boa
opção de transporte público está se dando bem. O analista de
controladoria Fábio Buso, 36,
quebrou um vazio de quase
uma hora em horário de pico na
estação Sé. Fim de expediente,
os sapatos e a calça guardados
em uma bolsa, ele pegou uma
bike às 18h30 de segunda, para
fazer o trajeto até a Vila Guilhermina pela Radial Leste.
"Vou feliz, vendo as pessoas
presas no trânsito, outras espremidas no trem", disse.
Quem está acostumado com
o serviço de bikes mundo afora
não poupa elogios ao sistema
paulistano. O americano Holmes Wilson, 29, o definiu em
bom português: "Muito bom".
Com seu olhar de turista, ele
avalia outros benefícios. "De bike, consigo conhecer a cidade
fora de rotas turísticas, entrar
pelos bairros. Fui até o Minhocão e achei maravilhoso", disse.
Para estrangeiros, há instruções de uso em inglês em todos
os pontos do projeto.
Nesses seis meses, seis bicicletas foram furtadas, o que explica o excesso de segurança e a
vigilância de funcionários. Sem
cartão de crédito, não há como
fazer a retirada, modelo que segue o Vélib de Paris. Até o final
deste ano, mais 28 bicicletários
devem ser implantados, com
300 novas bicicletas.
Ciclovias só no papel
O projeto UseBike precisa de
estrutura urbana. São Paulo
possui apenas 16 km de ciclovias fora de parques, segundo a
Secretaria do Verde e do Meio
Ambiente, contra 17 mil km de
ruas e avenidas destinadas aos
automóveis. Também faltam
campanhas de educação no
trânsito. Dos 12,2 km da Radial
Leste previstos para serem entregues até o fim do governo
anterior de Kassab, por exemplo, só 6 km saíram do papel.
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