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Psiquiatra protela consulta por convênio
Dos 48 consultórios contatados na cidade, 17 tinham horário para menos de um mês; particular tem atendimento rápido
Médicos dizem que causa é a
remuneração baixa feita
pelas operadoras; demora
costuma ser parecida com a
encontrada na rede pública
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Pagar plano de saúde não é
garantia de conseguir consulta
com rapidez. Quem telefonar
hoje para os psiquiatras conveniados de São Paulo terá grandes possibilidades de ouvir da
secretária que em menos de um
mês não há horário livre. Nos
piores casos, a consulta será em
junho, julho ou até agosto.
Nem mesmo nos hospitais
públicos a espera costuma se
arrastar por tanto tempo.
A Folha telefonou para todos os 67 psiquiatras oferecidos em São Paulo por planos
econômicos das cinco maiores
operadoras da cidade (Medial,
Intermédica, Bradesco Saúde,
Sul América e Unimed Paulistana) e conseguiu contato com
48 consultórios.
Nos 19 casos restantes, o número estava errado, a linha
ocupada ou ninguém atendia
-para cada telefone foram feitas ao menos três tentativas,
em dias diferentes.
Apenas 17 médicos tinham
horário ao longo das quatro semanas seguintes. Na maioria
dos consultórios, 24, a espera
seria superior a um mês. Havia
ainda médicos de licença e consultórios sem psiquiatras (veja
quadro ao lado).
Um dos psiquiatras da Unimed só poderia atender depois
de praticamente seis meses, no
final de agosto. Um médico da
Bradesco, em 2 de julho. A Folha encontrou quatro consultas para junho e seis para maio.
Uma pesquisa nacional feita
pelo Ibope em 2007 mostrou
que, no SUS (Sistema Único de
Saúde), 62% dos pacientes conseguiram consulta com psiquiatra em um ou dois meses.
Complicações
"É lamentável que haja tanta
demora nos planos", diz o vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Luiz Alberto Hetem. "Se a pessoa tem
um quadro grave, o tratamento
deve começar o quanto antes
para evitar complicações."
Por que tanta demora? Segundo o Sindicato dos Médicos
de São Paulo, as agendas estão
lotadas porque as operadoras
querem cortar gastos.
Para isso, remuneram os médicos com valor inferior ao do
mercado privado. As empresas
pagam, em média, R$ 40. Uma
consulta particular custa no
mínimo quatro vezes mais.
A psiquiatria tem suas particularidades. Diferentemente
do que ocorre com outras especialidades médicas, o tratamento psiquiátrico tem consultas demoradas e exige vários
retornos. Por causa do baixo
valor pago, muitos psiquiatras
preferem simplesmente não
atender pelo plano de saúde.
Dos que atendem, parte tende a priorizar os pacientes particulares. A Folha encontrou
casos assim. É pelo plano de
saúde? O psiquiatra tem horário dentro de um mês. É consulta particular? O mesmo médico cobra R$ 180 e o atendimento poderia ser feito na semana seguinte.
"O custo do consultório é alto: aluguel, água, luz, telefone,
secretária, computador, impostos, limpeza. O médico acaba pagando para trabalhar", argumenta Cid Carvalhaes, presidente do sindicato médico.
Discriminação
Para a advogada Juliana Ferreira, do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), ter uma agenda que prioriza os clientes particulares é
uma "prática discriminatória".
"O único critério para atender a
um paciente na frente de outro
deve ser a gravidade. Ele pode
fazer uma reclamação ao Conselho Regional de Medicina."
As operadoras também economizam dinheiro quando não
admitem novos médicos. Assim, a rede credenciada fica enxuta. E os poucos profissionais,
sobrecarregados.
"É que ele é o único psiquiatra [credenciado] da zona norte
[de São Paulo]", explicou a secretária de um dos médicos, depois de dizer que só poderia
marcar consultas para junho.
Quando a espera pela consulta é exageradamente longa, a
advogada especialista em saúde
Renata Vilhena recomenda que
o paciente se consulte com um
médico particular e depois exija o reembolso. "É preciso provar que a data estava distante."
A tarefa de marcar consulta
com um médico fica ainda mais
difícil quando se recorre as listas de telefones das operadoras.
A Folha telefonou para cerca
de 200 psiquiatras, clínicos gerais, ginecologistas e cardiologistas e ouviu repetidas vezes a
mensagem "Este número de
telefone não existe".
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