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TRANSPORTE
Força-tarefa vai investigar empresários que usam terceiros para escapar de ações na Justiça; mais um sindicalista foi preso
PF fará devassa em viações de "laranjas"
PALOMA COTES
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Federal fará a partir de
hoje uma devassa em empresas
de ônibus de São Paulo que estariam em nome de "laranjas".
Depoimentos de ex-sindicalistas e denúncias de trabalhadores
de viações que operam na cidade
já envolvem seis delas no esquema, que visaria proteger os verdadeiros proprietários de dívidas e
ações criminais. Com as investigações de hoje, a PF diz acreditar
que novos casos surgirão.
A identidade dos denunciantes
-que costumam depor durante
a madrugada- e os nomes das
viações são mantidos sob sigilo.
"Essas empresas pertencentes a
funcionários fantasmas compõem mais de 90% das que estão
na cidade. Faremos um levantamento, a checagem e a identificação de todas", afirmou Nivaldo
Bernardi, delegado da PF que cuida do inquérito com denúncias
sobre as relações de diretores do
sindicato dos motoristas e cobradores com empresários do setor.
Uma das denúncias sobre as
empresas "laranjas" chegou ontem à PF. Um motorista descobriu que a viação onde trabalhava
está registrada no nome dele.
"São inúmeras as informações
que estão chegando. O que mais
impressiona, além desse esquema, é a realização de greves em
conluio com os empresários",
afirmou Bernardi. Na próxima semana, empresários envolvidos e
denunciados serão chamados para depor. "Daremos uma atenção
especial ao Transurb [sindicato
patronal, que voltou a informar
ontem que não se manifestaria]."
O empresário de ônibus Leonardo Lassi Capuano é um dos
que serão investigados. Conforme
já publicou a Folha, ele "vendeu"
suas três viações paulistanas a "laranjas" em novembro de 2002. A
Cidade Tiradentes foi vendida a
um estelionatário e a um eletricista que já havia morrido. A Ibirapuera e a Santo Amaro foram repassadas a um ex-funcionário dele que morava em Carapicuíba
(Grande SP) em uma rua sem asfalto e com esgoto a céu aberto.
A Folha também já revelou a
história de uma cobradora de ônibus que descobriu que não tinha
direito ao FGTS porque seu nome
constava como diretora da empresa onde trabalhava.
Denúncia
Ontem, a PF disponibilizou um
disque-denúncia para receber informações sobre esquemas de
propinas ligado ao transporte. O
telefone (0/xx/11) 3616-5211 vai
funcionar das 8h às 18h.
Os delegados envolvidos no caso também pediram um reforço à
PF de Brasília por causa da quantidade de informações. Bernardi
requisitou a vinda de seis agentes,
dois delegados e dois escrivães e
disse que, em razão do excesso de
trabalho, "não é fácil pedir a prisão preventiva para todos".
"Não estamos dando conta. É
muita coisa. Esperamos encerrar
o inquérito em 90 dias", disse. Até
o final da semana, deverão ser pedidas as prisões temporárias dos
sindicalistas presos.
Mais um diretor do sindicato,
com prisão decretada, entregou-se ontem. Paulo Cesar Barbosa, o
Paulão, disse "com ironia", segundo Bernardi, que desconhece
qualquer esquema de propina entre empresários e sindicalistas.
Ontem, a PF também começou a
ouvir os depoimentos formais
dos 14 sindicalistas presos nesta
semana, entre eles o presidente,
Edivaldo Santiago.
Durante toda a tarde, o sindicalista e secretário de Finanças do
sindicato, Gerson da Silva Machado, o Fubá, prestou depoimento.
Na terça, quando se entregou, ele
confirmou a existência de um esquema de repasse de dinheiro dos
planos de saúde -pagos pelas
viações- ao sindicato.
Dois sindicalistas, no entanto,
continuam foragidos: José Valdevan de Jesus (Noventa) e José Domingos da Silva (Dominguinhos).
O 17º da lista que havia sido divulgada no começo da semana pela
PF é Severino Teotônio do Nascimento, o Titonho. Mas ele já está
preso em Guarulhos desde julho
de 2002. É acusado de três homicídios, um deles de Maurício Alves
Cordeiro, presidente do sindicato
dos condutores do município.
Segundo a Secretaria Estadual
da Administração Penitenciária,
Titonho listou Edivaldo Santiago
entre os autorizados para visitas.
Santiago foi citado como "primo"
de Titonho, mas nunca o visitou.
Anteontem, a polícia apresentou
uma carta que mostraria uma relação de amizade entre o sindicalista e o preso. Para os delegados
da PF, existe a possibilidade de
Santiago estar envolvido nesse e
em outros homicídios.
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