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RIO
Ex-comandante disse ter recebido pedido para diminuir repressão ao tráfico na Mangueira
PM acusa secretário e pode ser preso
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-comandante do 4º BPM
(Batalhão da Polícia Militar), tenente-coronel Erir Ribeiro da
Costa Filho, poderá ser preso hoje
por ter acusado o secretário estadual de Esportes, Francisco de
Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, de conivência com o tráfico de drogas no morro da Mangueira (zona norte).
Costa Filho, ao passar anteontem o comando do batalhão ao tenente-coronel Cezar Augusto,
disse ao discursar que "o bem foi
derrotado pelo mal", conforme
"O Globo" publicou ontem. Ele
havia sido afastado do comando
em 26 de abril, pelo secretário estadual de Segurança Pública, Anthony Garotinho. Ele se referia ao
suposto pedido de Chiquinho
-deputado estadual pelo PSB,
partido de Garotinho- para que
diminuísse a repressão ao tráfico
na Mangueira, sua base eleitoral.
Em fevereiro, Costa Filho enviou ofício à secretaria em que relatava a suposta solicitação de
Chiquinho, que negou ontem as
acusações. Disse que só pediu um
replanejamento das incursões dos
PMs, evitando os horários de entrada e saída das escolas da favela.
Segundo o ofício, Chiquinho
pediu, durante reunião com o tenente-coronel em 14 de fevereiro,
uma "trégua" na repressão dos
PMs aos traficantes porque eles
não estariam "vendendo nada".
Dez dias depois, Chiquinho pediu ao juiz de menores Siro Darlan, em ofício, para que interviesse junto ao comandante, alegando
que a PM estava fazendo incursões diárias no morro e que crianças poderiam ser vítimas de balas
perdidas. Novamente Costa Filho
enviou ofício à Secretaria de Segurança, comunicando o fato e explicando que realizava policiamento ostensivo. O documento
dizia ainda que, desde que assumira o comando do batalhão, não
ocorrera "nenhum incidente envolvendo a comunidade ordeira
da Mangueira e PMs".
O ofício dizia que o efetivo do
batalhão estava recebendo treinamento especial porque traficantes
poderiam "efetuar disparos contra estudantes do local, visando
incriminar o policiamento".
Ontem, o comandante-geral da
PM, Renato Hottz, defendeu Chiquinho. Disse que Costa Filho
agiu de forma "indevida e inadequada" ao comentar o assunto em
discurso para a tropa. Para ele,
houve um mal-entendido. Hottz
disse ainda que Costa Filho politizou o discurso. Ele deu prazo de
48 horas para que o tenente-coronel apresente explicações sobre o
ocorrido. O prazo termina hoje.
Se a explicação não for considerada convincente, Costa Filho deverá sofrer prisão administrativa.
Garotinho não falou sobre o caso, mas sua assessoria divulgou
que as acusações são um "jogo
político" para "desestabilizar a
política de segurança". Disse ainda que o comandante é ligado ao
deputado Paulo Ramos (PDT).
"Um comandante que isola o
tráfico sem causar confrontos
quer desestabilizá-la [a segurança
pública]?", respondeu Ramos.
Ramos protocolou ontem na
Assembléia do Rio dois pedidos
para que Chiquinho e Costa Filho
compareçam à Casa para prestar
esclarecimentos sobre o caso.
Ramos disse estranhar a demissão de um comandante que acabou com os confrontos violentos
em um dos maiores pontos-de-venda de drogas do Rio.
Nos três primeiros meses do
ano, quando Costa Filho esteve à
frente do 4º Batalhão, foram 112
apreensões de drogas e 33 de armas, contra 65 e 19, respectivamente, no mesmo período de
2002. No primeiro trimestre deste
ano, o número de mortos em confrontos com PMs do 4º Batalhão
representa 2% do total do Estado.
Foram cinco mortos, de 314.
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