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São Paulo, quinta-feira, 22 de maio de 2003

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RIO

Ex-comandante disse ter recebido pedido para diminuir repressão ao tráfico na Mangueira

PM acusa secretário e pode ser preso

DA SUCURSAL DO RIO

O ex-comandante do 4º BPM (Batalhão da Polícia Militar), tenente-coronel Erir Ribeiro da Costa Filho, poderá ser preso hoje por ter acusado o secretário estadual de Esportes, Francisco de Carvalho, o Chiquinho da Mangueira, de conivência com o tráfico de drogas no morro da Mangueira (zona norte).
Costa Filho, ao passar anteontem o comando do batalhão ao tenente-coronel Cezar Augusto, disse ao discursar que "o bem foi derrotado pelo mal", conforme "O Globo" publicou ontem. Ele havia sido afastado do comando em 26 de abril, pelo secretário estadual de Segurança Pública, Anthony Garotinho. Ele se referia ao suposto pedido de Chiquinho -deputado estadual pelo PSB, partido de Garotinho- para que diminuísse a repressão ao tráfico na Mangueira, sua base eleitoral.
Em fevereiro, Costa Filho enviou ofício à secretaria em que relatava a suposta solicitação de Chiquinho, que negou ontem as acusações. Disse que só pediu um replanejamento das incursões dos PMs, evitando os horários de entrada e saída das escolas da favela.
Segundo o ofício, Chiquinho pediu, durante reunião com o tenente-coronel em 14 de fevereiro, uma "trégua" na repressão dos PMs aos traficantes porque eles não estariam "vendendo nada".
Dez dias depois, Chiquinho pediu ao juiz de menores Siro Darlan, em ofício, para que interviesse junto ao comandante, alegando que a PM estava fazendo incursões diárias no morro e que crianças poderiam ser vítimas de balas perdidas. Novamente Costa Filho enviou ofício à Secretaria de Segurança, comunicando o fato e explicando que realizava policiamento ostensivo. O documento dizia ainda que, desde que assumira o comando do batalhão, não ocorrera "nenhum incidente envolvendo a comunidade ordeira da Mangueira e PMs".
O ofício dizia que o efetivo do batalhão estava recebendo treinamento especial porque traficantes poderiam "efetuar disparos contra estudantes do local, visando incriminar o policiamento".
Ontem, o comandante-geral da PM, Renato Hottz, defendeu Chiquinho. Disse que Costa Filho agiu de forma "indevida e inadequada" ao comentar o assunto em discurso para a tropa. Para ele, houve um mal-entendido. Hottz disse ainda que Costa Filho politizou o discurso. Ele deu prazo de 48 horas para que o tenente-coronel apresente explicações sobre o ocorrido. O prazo termina hoje. Se a explicação não for considerada convincente, Costa Filho deverá sofrer prisão administrativa.
Garotinho não falou sobre o caso, mas sua assessoria divulgou que as acusações são um "jogo político" para "desestabilizar a política de segurança". Disse ainda que o comandante é ligado ao deputado Paulo Ramos (PDT).
"Um comandante que isola o tráfico sem causar confrontos quer desestabilizá-la [a segurança pública]?", respondeu Ramos.
Ramos protocolou ontem na Assembléia do Rio dois pedidos para que Chiquinho e Costa Filho compareçam à Casa para prestar esclarecimentos sobre o caso.
Ramos disse estranhar a demissão de um comandante que acabou com os confrontos violentos em um dos maiores pontos-de-venda de drogas do Rio.
Nos três primeiros meses do ano, quando Costa Filho esteve à frente do 4º Batalhão, foram 112 apreensões de drogas e 33 de armas, contra 65 e 19, respectivamente, no mesmo período de 2002. No primeiro trimestre deste ano, o número de mortos em confrontos com PMs do 4º Batalhão representa 2% do total do Estado. Foram cinco mortos, de 314.


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