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BARBARA GANCIA
Queda livre
O que estamos esperando, que empresas como a Gol e a TAM entrem no mesmo cumulus nimbus que a Varig?
NÃO DEVERIA ESTAR aqui hoje.
Até jornalista tem direito a
férias e, como trabalho para
seis empresas distintas, sou obrigada a tirar as minhas na base do conta-gotas, dois dias aqui, dois dias ali,
e a planejar minhas folgas com
antecedência.
Assim sendo, no começo de abril
fiz uma reserva na TAM, de ida e volta a Buenos Aires, com partida na
quinta-feira, 21 de junho, às 9h, e
volta no domingo, às 18h15. Tudo
bonitinho, tudo planejadinho.
Ontem, ao desembarcar do táxi
(R$ 100, a corrida) no aeroporto André Franco Montoro, em Guarulhos,
olhei para dentro do saguão e não
percebi nenhuma anormalidade.
"Antes de seguir a recomendação da
ministra, despacho a mala e vou tomar um cafezinho para acordar",
pensei, eterna otária que sou.
Mas, na hora em que cheguei à fila
do check-in, a atendente da TAM
não quis nem mesmo saber para onde eu ia e já foi avisando: "Estamos
recomendando aos passageiros que
residem em São Paulo que voltem
para suas casas, seu vôo será remarcado, sem custo adicional, para depois de amanhã". Sem custo adicional? Depois de amanhã?
Tentei outro guichê. O atendente,
desta vez de chapéu caipira (?), repetiu a música: "Estamos recomendando aos passageiros que residem
em São Paulo...".
Fui ouvindo rádio no táxi de volta
para casa (R$ 95, a corrida) e descobri que a Infraero informava que,
naquele momento, 30% dos vôos estavam atrasados. Mas como 30%, se
a TAM mandou que eu remarcasse o
vôo para dali a DOIS dias?
Até o atentado de 11 de setembro,
a taxa de embarque nos aeroportos
tapuias era a mais cara do planeta.
Hoje, com os custos de segurança
embutidos nas taxas norte-americanas, a deles ficou US$ 6 mais cara do
que a nossa. Mas, quando a gente vê
as cenas de desespero vividas nos
aeroportos, adianta discutir a qualidade dos serviços oferecidos pela Infraero? Adianta comentar a declaração songamonga do ministro da Defesa de que vai levar um ano inteiro
para solucionar o problema?
A aviação brasileira enfartou de
vez e o governo finge que não vê.
Mas é bom começar a se mexer. Veja
só: pela infra-estrutura e pelos índices de acidentes aéreos, baixos para
padrões internacionais, nosso sistema aéreo é classificado pela OACI (a
Organização de Aviação Civil Internacional) como categoria 1, em paridade com a Europa e os EUA.
Mas, devido aos problemas ocorridos ultimamente, existe o risco de
o Brasil ser rebaixado para categoria
2, a mesma, diga-se, usada para classificar a Argentina. Note que, por serem categoria 2, vários países africanos não podem voar seus aviões de
bandeira nos Estados Unidos.
Nós já sentimos na carne os danos
causados pela falência da Varig. O
que estamos esperando, que a Gol e
a TAM também entrem no mesmo
cumulus nimbus? Vôos cancelados
sistematicamente e um rebaixamento pela OACI seriam desastrosos para qualquer companhia aérea.
Mas, em vez de se dar conta da gravidade do problema, dos danos à imagem do país e do dinheiro jogado pelos ares, o governo continua a usar a
aviação para fazer politicagem. Ou
será que nossa ministra sexóloga do
Turismo pode discordar de que a Infraero, entre outros, é usada para fazer troca-troca político?
barbara@uol.com.br
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