São Paulo, sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Juíza suspeita de ajudar facção é afastada

Foi a primeira medida contra uma autoridade do Judiciário de São Paulo por suspeita de envolvimento com o PCC

Ida Inês Del Cid foi flagrada em conversas telefônicas com acusado de participar de esquema de lavagem de dinheiro dos criminosos

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Suspeita de favorecer pessoas apontadas como integrantes da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), a juíza Ida Inês Del Cid, da 2ª Vara de Mauá (ABC), foi afastada do cargo ontem. Trata-se da primeira medida contra uma autoridade do Judiciário paulista por possível ligação com o grupo criminoso.
O afastamento foi determinado porque a juíza foi flagrada em conversas telefônicas com Sidnei Garcia, vice-presidente da Associação Comercial da cidade e acusado de compor um grupo de 18 pessoas que usariam, segundo o Ministério Público, 22 postos de combustível para lavar dinheiro para o PCC.
Conforme a Folha informou dia 11, o empresário Douglas Martins do Prado, 38, fez, em dezembro de 2006, uma série de denúncias à Corregedoria Geral de Justiça de São Paulo sobre a conduta da magistrada e de Maria Eugênia Pires, também juíza do fórum de Mauá.
Durante seis meses, Prado não foi interrogado pela Corregedoria. Ele, que pediu o afastamento da juíza "por conduta em desacordo com o cargo", foi terça-feira ao TJ e insistiu para ser ouvido.
Dois dias depois, a saída de Ida Inês foi anunciada. Na sessão, com decisão unânime, desembargadores do órgão especial se disseram "preocupados com a atuação do PCC".
O TJ também anunciou, na mesma notificação publicada no "Diário Oficial", o desmembramento do processo das duas juízas. No caso de Ida Inês, que ficará fora das funções até o fim das investigações, foi decretado segredo de Justiça.
Na notificação, os nomes das juízas aparecem somente com as iniciais.
O suposto envolvimento das duas juízas com pessoas apontadas como integrantes do PCC começou a ser investigado quando o empresário Prado comprou, no fim de 2005, uma casa de R$ 600 mil de Gildásio Siqueira Santos, também acusado de colaborar com a facção criminosa.
Após a conclusão do negócio, Santos entrou na Justiça e alegou não ter recebido integralmente o valor do imóvel. Prado, por sua vez, afirma ter feito, a pedido de Santos, parte dos pagamentos em contas de terceiros indicados por ele.
Coube a magistrada Maria Eugênia Pires julgar a causa. Ela deu ganho a Santos, que conseguiu ficar com o imóvel. Prado alega que a juíza não apreciou as comprovações de que quitou o imóvel.
Revoltado com o que classifica como golpe, Prado investigou Santos e descobriu a rede de postos. As informações dele acabaram na polícia e vários telefones foram grampeados.
Nos grampos para rastrear Santos, a polícia flagrou conversas de Sidnei Garcia com Ida Inês.

Grampos
Garcia tratava Ida Inês como "My Love" e ela devolvia: "palhaço", "trouxa" e "amore". Em outra gravação, a juíza diz a Garcia: "Ei...Eu podia estar matando, roubando, me prostituindo. Estou me arrumando".
Embora atuasse em Mauá, a juíza concedeu, num plantão que fazia em Santo André, liberdade a um homem preso em flagrante por porte ilegal de arma. O acusado seria segurança na loja de carros de Garcia.


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