São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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Homem doente tem medo de ficar vulnerável, diz médico

DA REPORTAGEM LOCAL

Há quase três décadas cuidando da saúde de alguns dos homens mais poderosos do país, o urologista Miguel Srougi, professor titular da Faculdade de Medicina da USP, avalia que uma sensação de invulnerabilidade faz com que os homens relutem em ir ao médico.
E diante de um diagnóstico de câncer, 50% dos pacientes tendem a esconder a doença.
"Parece que prevalece a sensação de que se o indivíduo falar que é doente, ele fica inferiorizado na sociedade", diz.
Em seu consultório, na região da avenida Paulista (zona central de São Paulo), dois terços dos pacientes chegam acompanhados das mulheres.
A seguir, trechos da entrevista de Srougi à Folha. (CC)  

FOLHA - Por que os homens relutam tanto em ir ao médico?
MIGUEL SROUGI
- Primeiro porque o homem tem receio da dor, segundo por causa do preconceito cultural e, em terceiro, porque ele tem a sensação de que é invulnerável. Acho que esse último motivo seja o mais forte, mais do que a dor e o preconceito. Os homens crescem com o conceito da evolução de que só os fortes sobrevivem e que, para se impor, precisam ter saúde. Fica esse estigma de que ele não pode ficar doente.

FOLHA - No seu consultório também é comum os homens irem acompanhados de suas mulheres?
SROUGI
- Sim, pelo menos dois terços dos meus pacientes, apesar de serem de classes economicamente mais altas e com grau de instrução mais elevado, são trazidos pelas mulheres.
Quando o homem atinge a idade madura, já tem o casamento consolidado. Nessa fase, a mulher passa a se preocupar muito com a preservação da família. O que mostra como essa idéia é real é que, quando se descobre um câncer de próstata, muitas vezes o marido fica na dúvida se faz cirurgia ou radioterapia. A cirurgia cura mais, mas dá mais disfunção sexual. A radioterapia cura menos, mas dá menos disfunção. O marido fica muito hesitante em escolher esses tratamentos. A mulher sempre quer a cirurgia. A mulher aceita comprometer a vida sexual dela porque quer o marido vivo.

FOLHA - Como reage o homem diante de um diagnóstico de câncer?
SROUGI
- Com certeza, 50% deles escondem. Não querem que falem, pedem para dizer que operou de hérnia. Parece que prevalece a sensação de que se o indivíduo falar que é doente, ele fica inferiorizado na sociedade, passa a ter os horizontes limitados. Políticos, então, nem se fala. Eles escondem o quanto podem a doença. Os médicos também ficam horrorizados.
Quando operam, querem ficar trancados no quarto para não cruzar com ninguém. Isso faz algum sentido porque a sociedade valoriza a saúde, o fato de o sujeito ser saudável.


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