São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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EUSTÁQUIO ALVES DA SILVA (1903-2008)

A vida severina do mais velho de Caicó

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A peregrinação de curiosos irrompeu devagar pela porta do número 303 da rua Coronel Bembem, segunda, só para ver de perto o homem mais velho de Caicó (RN). Eustáquio da Silva jazia na cama -ele e seus "104 anos, oito meses e 26 dias de vida".
"A causa, meu filho, foi a velhice", diz a nora. "E já era hora." Não comia. Pedia para morrer -não queria incomodar Toinha, neta que cuidava dele "como de uma criança" e terá, então, a casa como herança pelo tanto que passou. "Vem botar fumo no cachimbo que está hora", gritava, diz a nora. "Era Deus no céu e Toinha na Terra."
Mas Silva fora homem forte, de lida na roça, desde que nasceu no sertão de Brejo da Cruz (PB) até ir para Caicó, havia 30 anos, com a mulher -fizeram 75 anos de casório com bodas de brilhantes. E ela morreu um ano depois.
"Nunca teve chance boa na vida." A melhor foi há meio século, quando era comboieiro -não de caminhão, que então não tinha, mas de lombo de burro. Ia e voltava do Crato (CE), com farinha e rapadura no lombo de oito jumentos, para vender em Serra Negra do Norte (RN).
Lá, foi vereador quando "conseguiu" o cemitério para a Barra de São Pedro -diz a nora, inaugurado com a cova de um dos três filhos mortos dos quatro que teve.
Antes, um primor de novo; agora, o lugar tinha "mato que dava nos peitos" e muita formiga vermelha no chão. "Dava até dó." Lá, Silva foi enterrado, segunda, sob olhares da família de 36 netos, 86 bisnetos e 26 trinetos.

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