São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fundada por imigrantes japoneses, Bastos vive como "capital do ovo"

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL A BASTOS

No princípio, eram só japoneses. Fundada 20 anos após a chegada da primeira caravana de imigrantes ao porto de Santos, que em 18 de junho completou cem anos, Bastos àquela época desconhecia a língua portuguesa. E até hoje (boa) parte da população continua assim, monolíngüe.
A 536 km de São Paulo e a uma hora de carro de Marília, Bastos tem 20 mil habitantes. Desses, uns 5.000 voltaram ao Japão como decasséguis. Mandam, em média, US$ 1.000 mensais à família.
Mesmo com o êxodo, ainda hoje a cidade possui a maior porcentagem de pessoas de origem asiática do Estado, com 11,4% da população.
Bastos se orgulha ao dizer que é a "capital do ovo", principal fonte de renda do lugar. São 18 milhões de galinhas poedeiras, que colocam 12 milhões de ovos diariamente.
A cidade tem tanto frango que até no centro se sente um cheiro de aves da zona rural.
A colônia foi fundada por imigrantes japoneses recém-chegados ao Brasil em 1928. O aniversário coincide com o centenário, em 18 de junho, mas Bastos (cujo nome é referência ao antigo fazendeiro dono das terras), faz 80 anos.
"No começo não havia nem nisseis. Todos eram japoneses mesmo, nascidos no Japão", diz o ruralista Yasuhiko Yamanaka, que tem dupla cidadania, mas nunca foi à Ásia.
Tudo em Bastos remete ao ovo. A praça? É do ovo. As calçadas? Têm desenhos de ovos. O principal evento do ano é a festa do ovo. O que mais se come no lugar? Ovos.
Mas nem sempre foi assim. A primeira monocultura foi a do café. Aí veio um decreto do governo em 1931, que impôs restrições aos cafeicultores, e surgiu o algodão, cuja produção atingiu um terço do que era consumido no Estado.
Dez anos depois, veio o bicho-da-seda. Curiosamente, Bastos tinha a maior fábrica brasileira de fios de seda e foi o maior fornecedor para os EUA, que os usavam na produção de pára-quedas contra os japoneses na 2ª Guerra.
Com o fim do conflito, a atividade entrou em declínio e a produção avícola, à época amadora, consolidou-se.
Em Bastos, o que não for japonês remete à simbologia oriental. As lojas, quando não têm nomes como padaria Takahashi, calçados Nagayoshi e papelaria Kawasaki, chamam-se sementeira Sol Nascente ou têm nomes em português em ideogramas.
Na política, a cidade já foi mais japonesa do que é agora. De 13 prefeitos que já teve, sete eram descendentes. Hoje, a Câmara não tem um vereador nikkei sequer, entre os nove.


Texto Anterior: Violência no trânsito: Acidentes na madrugada causam três mortes em SP
Próximo Texto: Falha em tratamento de esgoto piora Tietê
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.