São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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Modelo iniciante tenta decolar no mundo da moda na SPFW

A maratona de uma jovem gaúcha que, aos 16 anos, batalha para ser reconhecida

SILVIANE NENO
DA REVISTA DA FOLHA

No dicionário da moda, "new face" é modelo iniciante, a caloura de uma carreira difícil. São meninas entre 14 e 18 anos que estão começando a vida profissional, recém-saídas de cursos ou descobertas por olheiros de agências. Empurradas por mães confiantes na beleza da cria, todas querem ser Gisele Bündchen.
A reportagem acompanhou o início da maratona de uma das apostas da Ford Models nessa temporada de moda. Paula Zago, 16, gaúcha de sotaque carregado, começou a semana com 16 desfiles fechados.
Com a expectativa de ir além das duas dezenas de desfiles por sete dias em SP, Paula acordou cedo em 17 de junho, quando foi dada a largada na maratona desta 25ª edição da São Paulo Fashion Week.
"Estou até com a mão gelada", diz, mostrando os dedos frios logo pela manhã.
Com fome, Paula correu para a geladeira e preparou seu café da manhã: uma fatia de pão integral, manteiga, uma maçã, iogurte de morango e granola. Iogurte light, como convém a uma modelo de passarela? Não: "O mais barato mesmo".
Tem início a dura jornada de trabalho da adolescente, que sai de casa às 11h30. Carrega uma maxibolsa preta, sem grife. "De brechó." Dentro há um suco de caixinha, chicletes, quatro revistas de palavras cruzadas, agenda, carteira de documentos, um sapato de salto alto e a carteira de trabalho.
O corpo é quase de criança. Os 52 quilos parecem desaparecer distribuídos em 1,75 m de altura. O rosto delicado se transforma ao primeiro flash.
No backstage da Osklen, Paula vai direto para a mesa reservada à fome da equipe. De pé, ela devora um copinho de salada e penne com vegetais.
Depois do almoço, hora da maquiagem. O cabelo longo é preso com creme num rabo de cavalo bem "natural".
"Tomara que o sapato não seja de salto e que caiba no meu pé." Paula calça 36, número talvez pequeno demais para um pé de modelo. Às 14h50, a camareira aparece para ajudar a vesti-la e... O sapato era maior que o pé. "Será que não trocaram?" O jeito foi apertar no tornozelo as fitas da sandália.
Quarenta minutos depois, Paula entra na fila com as outras colegas. São 15h35, quando o desfile da Osklen, previsto para as 15h, começa. Em 15 minutos, volta ao camarim com a missão cumprida. A fila se forma novamente às 16h40. A sandália começa a machucar o pé. Ela reclama, mas segue em frente. Entra correndo e recua, quando avista trufas de chocolate -come uma, duas...
Meia hora depois, Paula já está no camarim da Ellus. Novo "look", outra maquiagem, outro cabelo. São 18h40. O pé continua sofrendo: "A primeira sandália cortou o meu dedão e as outras vão tirando lascas".
São 20h30 quando Paula deixa o prédio da Bienal. O dia de trabalho lhe rendeu R$ 1.440 -cachê de R$ 480 por desfile.
Paula vai direto para casa. Cansada, Paula? "Nada, faria mais três desfiles hoje, se tivesse." O pé repousa feliz dentro do velho All Star. No dia seguinte, a primeira prova de roupa estava agendada para as 9h.
Era só o começo.


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