São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2010

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Chuva destrói 11.400 casas em Alagoas

Cenário lembra destruição causada por tsunamis; moradores acampam na rua para evitar saques a seus bens

"A água veio rápido, derrubando casa por casa", diz desabrigado; famílias dividem pouco espaço em abrigos

DanielMarenco/Folhapress
Centro da cidade de Branquinha, AL, destruído pela chuva

FÁBIO GUIBU
ENVIADO ESPECIAL A UNIÃO DOS PALMARES (AL)

Centenas de casas, lojas e prédios públicos que ficavam ao longo de uma faixa de 60 km às margens do rio Mundaú, no interior de Alagoas, foram destruídos com as cheias que atingiram a região durante o fim de semana. Em todo o Estado, 11.400 casas vieram abaixo.
Nas cidades de União dos Palmares e Branquinha (69 km de Maceió), o cenário é de terra arrasada. O nível do rio subiu pelo menos cinco metros e devastou tudo o que havia nas margens.
A lama cobriu as ruas e o asfalto soltou-se em placas. Árvores e postes foram arrancados do chão.
Bombeiros comparam o estrago nas cidades a um causado por um tsunami.
Desde sexta-feira, várias cidades estão sem água e energia elétrica. Trinta e oito pessoas morreram em Alagoas e Pernambuco.
"Perdi tudo de uma hora para outra", disse o servente de pedreiro Nelito Ribeiro de Sousa, 32, morador de União dos Palmares (62 mil habitantes, 80 km de Alagoas). "A água veio rápido, derrubando casa por casa."

CORPOS NO RIO
Ontem, com o rio de volta ao seu nível normal, desabrigados carregavam sacos nas costas e empurravam carrinhos de mão.
Procuravam localizar indícios de suas casas para recolher algum objeto de algum valor que não tivesse sido levado, de eletrodomésticos a botijões de gás.
Alguns montaram acampamentos nas ruas para evitar saques. Muitos aproveitaram-se da situação para recolher, principalmente, portões e fios de cobre que encontravam nos destroços.
Em União dos Palmares, nas escolas transformadas em abrigos para flagelados, famílias dividem pequenos espaços delimitados por sucata e carteiras escolares.
Sobre colchões úmidos e sujos de lama, crianças e cachorros dormem lado a lado.
Segundo a médica Angela Auto, crianças apresentam diarreia, e a gripe começa a se disseminar entre elas. Ela teme também que as águas espalhem lepstospirose.
O governo federal deve definir na próxima terça-feira o valor que será repassado emergencialmente para ajudar os Estados de Alagoas e Pernambuco no enfrentamento das enchentes.

PERNAMBUCO
A situação também era precária no sul de Pernambuco, principalmente em Palmares (a 129 km de Recife), onde o rio Una transbordou. A correnteza derrubou duas pontes, provocando a interdição da BR-101.
A pensionista Anamara da Silva, 65, relata o caos: "Tá uma fome que só Deus sabe".
Ela conta que mesmo quem tem dinheiro não consegue comprar comida. Nos poucos lugares em que ainda há mantimentos, os preços subiram: galões de água mineral, antes vendidos por R$ 3,50, agora custam R$ 20.
"Agora, a maior necessidade é de água, comida e roupas para a população", disse ontem o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Colaboraram LUIZA BANDEIRA, de São Paulo, e LARISSA GUIMARÃES, de Brasília

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