|
Texto Anterior | Índice
HERMANN GONÇALVES SCHATZMAYR (1936-2010)
Expoente no combate à varíola
RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO
O campeão de futebol de
botão na escola e destaque
no basquete juvenil do Flamengo se tornou um dos responsáveis pelo fim da varíola
e da poliomielite no país.
Hermann Schatzmayr era
o único filho de um austríaco
com uma capixaba. O pai
veio ao Brasil fugindo da Primeira Guerra. Na Segunda,
considerado alemão, foi preso e teve bens confiscados.
"Ele fugia das guerras, e
elas vinham atrás dele", disse Hermann, em depoimento
ao Instituto Oswaldo Cruz.
Aos 17, Hermann foi cursar
veterinária. Gostou de laboratórios e, em 1961, estudou a
pólio e cuidou da distribuição da vacina na Fiocruz.
Não se envolveu no golpe
de 1964. "Segundo meu pai,
quando um jovem entrava na
política e dava um problema,
sempre tinha um tio general
para resolver, mas eu não."
Para se afastar, foi estudar na
Europa. Voltou em 1966.
Trabalhou com a vacina
da varíola e virou coordenador de virologia. Nos anos
90, presidiu a Fiocruz. Gostava de contar da reação de japoneses com o sucesso das
campanhas. "O Zé Gotinha
fazia a festa, e uma fila de
crianças aguardava a vez de
tomar vacina. Eles fotografavam, sem acreditar que a vacinação acontecia na rua."
O homem que isolou o vírus da dengue gostava de Petrópolis porque "lá não tem
mosquito, tenho horror de
mosquito". Queria se mudar
ao se aposentar, mas continuou na Fiocruz até morrer.
Teve ontem falência de órgãos, aos 74. Deixa viúva,
dois filhos e cinco netos. "Até
hoje, às vezes, dou uma surra
no meu neto e no meu genro", disse, há quatro anos,
sobre o futebol de botão.
coluna.obituario@uol.com.br
Texto Anterior: Mortes Índice
|