São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2011

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Greve deixa corpos à espera de enterro em São Paulo

Paralisação no serviço funerário atrapalha sepultamentos em toda a cidade

Faxineiros trabalharam como coveiros em esquema improvisado; funcionários públicos voltam ao trabalho hoje


DE SÃO PAULO

Uma greve inédita de coveiros, motoristas e funcionários do Serviço Funerário da Prefeitura de São Paulo deixou cadáveres em hospitais, velórios atrasados e corpos dentro de casa à espera de remoção ontem.
"Não dói neles porque não é parente deles", criticava Verônica Aparecida Martins, no cemitério do Araçá. Ela esperava desde as 9h pela liberação do corpo do irmão. Não conseguiu enterrá-lo ontem e só deve fazer isso hoje.
A greve afetou o serviço nos 22 cemitérios públicos e, mesmo com o fim da paralisação, havia pelo menos 120 corpos na fila para serem enterrados. Isso pode causar transtornos na manhã de hoje, afirma a prefeitura.
Segundo o sindicato dos servidores, 80% dos 1.366 funcionários pararam.
Com a suspensão da greve, a prefeitura espera normalizar o trabalho à tarde. O serviço funerário disse que tinha um plano de contingência montado e que o acionou assim que percebeu os transtornos. Faxineiros viraram coveiros e fiscais, motoristas.
Em média, são feitos 290 enterros por dia na cidade. A prefeitura não divulgou quantos fez nem quantos foram cancelados ontem.
A dentista Vera Lucia Hernandes, 55, esperava angustiada uma solução para o seu caso. Sua mãe, Alice, 82, morreu no asilo e o corpo foi mantido lá, sem refrigeração, desde as 12h45. A remoção só deve acontecer hoje.
Para os parentes e amigos que perguntavam sobre o sepultamento de dona Alice, a única resposta que Vera encontrava era: "Não temos ainda o corpo para velar. Quando tivermos, aviso".
Enterros e velórios em cemitérios particulares também foram afetados.
O principal problema ocorreu no cemitério da Vila Formosa, o maior da cidade, responsável por até 40 sepultamentos diários. Segundo o secretário de Serviços, Dráusio Barreto, grevistas chegaram a fechar covas já abertas.
Hospitais mantiveram os cadáveres em necrotérios. Parentes cujos familiares morreram em casa tinham de aguardar a chegada de um carro funerário.
A greve, marcada desde o dia 13, foi considerada ilegal pela Justiça -que impôs multa de R$ 60 mil ao sindicato por dia.
A categoria promete parar novamente em agosto caso o aumento de 39,79% não seja concedido. A prefeitura já concedeu R$ 300 de gratificação, mas o pagamento depende de aprovação da Câmara Municipal.
(ANDRÉ MONTEIRO, EVANDRO SPINELLI, LAURA CAPRIGLIONE, RICARDO GALLO e VANESSA CORRÊA)


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