São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2011

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ANÁLISE

Nessa confusão, é preciso distinguir fraude de gambiarra

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Nessa confusão toda sobre plantões irregulares, é preciso distinguir entre as fraudes propriamente ditas, nas quais o sujeito recebe sem trabalhar, lesando o erário, e as gambiarras, que são as soluções informais encontradas pelo serviço público para lidar com um sistema engessado e pouco inteligente.
Exigir do dia para a noite que todos os plantões sejam cumpridos à risca, eliminando as gambiarras, provavelmente levaria a saúde pública ao colapso.
A origem do problema são as distorções salariais, frequentemente patrocinadas por autoridades políticas.
Imaginemos um prefeito que tenha transformado o programa X em bandeira eleitoral. Para fazê-lo funcionar, ele eleva os vencimentos dos médicos desse programa, sem, contudo, mexer no resto do sistema.
O resultado, esdrúxulo, é que o poder público começa a concorrer consigo mesmo.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, as AMAs (assistência médica ambulatorial), o novo nome do velho posto de saúde, pagam cerca de R$ 3.500 mensais para uma jornada de 12 horas semanais. Já um plantonista de UTI ou sala de emergência, função bem mais desgastante, recebe, pela tabela, mais ou menos a metade disso.
Para conseguir trazer médicos para esses postos-chave, gestores se valem de diversos tipos de expediente irregular. Oferecem pagamento dobrado (recebe por 24, mas trabalha 12), plantões extras e outras medidas que resultam em escalas que não correspondem à realidade.


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