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ABASTECIMENTO
Árvores servem de esponjas para os rios; só na região de Campinas é necessário replantar 200 milhões de mudas
Desmatamento agrava crise da água em SP
THOMAS TRAUMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisas feitas pelos departamentos que cuidam de saneamento e ambiente afirmam que o
desmatamento nas margens dos
rios afeta o abastecimento de água
no Estado de São Paulo. Quanto
menos mata ciliar, menor a vazão
e a qualidade da água do rio, dizem os estudos.
No projeto mais adiantado sobre o assunto, o Consórcio dos
Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí estimou que existe a necessidade de replantar 200 milhões de
árvores nas margens dos rios que
abastecem Campinas, Piracicaba
e outras 60 cidades. A conclusão
do projeto é que o reflorestamento é a saída mais simples e barata
para melhorar a qualidade da
água na região, uma das mais críticas do Estado.
Para efeito de comparação: o
plantio desses 200 milhões de árvores resolveria apenas o problema da região que ocupa 6% do
território paulista. Não existe estudo que demonstre quanto deve
ser reflorestado para recuperar
todos os rios paulistas.
Desde o ano passado, foram
plantadas 100 mil mudas de ingás,
ipês e eritrinas e outras 50 espécies na beira do rio Corumbataí, o
afluente responsável pelo abastecimento de Piracicaba. A meta é
plantar 20 milhões de mudas de
árvores em 20 anos.
"Os anos de desmatamento assorearam o Corumbataí. Sem esse
trabalho de recuperação da mata
ciliar, a longo prazo existe o risco
de desabastecimento da cidade",
disse o presidente do Serviço Municipal de Água e Esgoto de Piracicaba, José Augusto Seydel.
A idéia de reflorestar as matas
ciliares implica esperar 20 anos
para cada árvore maturar e criar
uma parceria com os proprietários das terras por onde passam
os rios. Sem o apoio dos fazendeiros, a possibilidade de as árvores
crescerem beira a zero.
"Muitas companhias imaginam
que o abastecimento de água se
resolve com represas e chuva. O
problema é mais completo e interligado", disse o professor Aldo
Rebouças, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da
Universidade de São Paulo.
"A devastação da mata ciliar na
represa Billings ou no rio Atibaia
atinge não só o consumidor de
São Paulo e Campinas, mas todo
o sistema. Assim como um rio
atravessa muitas cidades, os seus
problemas e suas qualidades também atingem populações diferentes", disse Rebouças.
Na escola
"As pessoas aprendem na escola
que as árvores funcionam como
uma esponja para proteger os
rios. O problema é que São Paulo
desmatou 92% da sua mata atlântica, provocou milhares de quilômetros de erosão e criou um desastre ambiental para os rios",
disse Mário Mantovani, diretor
da ONG ambiental Fundação SOS
Mata Atlântica.
Dados coletados pela ONG em
estudo conjunto com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que, por ano,
cerca de 13 mil hectares de mata
atlântica são derrubados no Estado de São Paulo. Cruzamento
desse número com dados do Departamento Estadual de Proteção
de Recursos Naturais aponta que
uma de cada quatro dessas árvores fica na beira dos rios.
Rio e florestas vivem em simbiose. O solo na beira dos rios é,
geralmente, rico em nutrientes.
Em compensação, as raízes e as
folhas garantem a vazão contínua
da água ao longo do rio. A mata
forma ainda uma barreira que filtra a chegada de agrotóxicos e impede que a água da chuva caia diretamente no solo, gerando erosão e assoreamento.
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