São Paulo, domingo, 22 de julho de 2001

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ABASTECIMENTO

Árvores servem de esponjas para os rios; só na região de Campinas é necessário replantar 200 milhões de mudas

Desmatamento agrava crise da água em SP

THOMAS TRAUMANN
DA REPORTAGEM LOCAL

Pesquisas feitas pelos departamentos que cuidam de saneamento e ambiente afirmam que o desmatamento nas margens dos rios afeta o abastecimento de água no Estado de São Paulo. Quanto menos mata ciliar, menor a vazão e a qualidade da água do rio, dizem os estudos.
No projeto mais adiantado sobre o assunto, o Consórcio dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí estimou que existe a necessidade de replantar 200 milhões de árvores nas margens dos rios que abastecem Campinas, Piracicaba e outras 60 cidades. A conclusão do projeto é que o reflorestamento é a saída mais simples e barata para melhorar a qualidade da água na região, uma das mais críticas do Estado.
Para efeito de comparação: o plantio desses 200 milhões de árvores resolveria apenas o problema da região que ocupa 6% do território paulista. Não existe estudo que demonstre quanto deve ser reflorestado para recuperar todos os rios paulistas.
Desde o ano passado, foram plantadas 100 mil mudas de ingás, ipês e eritrinas e outras 50 espécies na beira do rio Corumbataí, o afluente responsável pelo abastecimento de Piracicaba. A meta é plantar 20 milhões de mudas de árvores em 20 anos.
"Os anos de desmatamento assorearam o Corumbataí. Sem esse trabalho de recuperação da mata ciliar, a longo prazo existe o risco de desabastecimento da cidade", disse o presidente do Serviço Municipal de Água e Esgoto de Piracicaba, José Augusto Seydel.
A idéia de reflorestar as matas ciliares implica esperar 20 anos para cada árvore maturar e criar uma parceria com os proprietários das terras por onde passam os rios. Sem o apoio dos fazendeiros, a possibilidade de as árvores crescerem beira a zero.
"Muitas companhias imaginam que o abastecimento de água se resolve com represas e chuva. O problema é mais completo e interligado", disse o professor Aldo Rebouças, pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.
"A devastação da mata ciliar na represa Billings ou no rio Atibaia atinge não só o consumidor de São Paulo e Campinas, mas todo o sistema. Assim como um rio atravessa muitas cidades, os seus problemas e suas qualidades também atingem populações diferentes", disse Rebouças.

Na escola
"As pessoas aprendem na escola que as árvores funcionam como uma esponja para proteger os rios. O problema é que São Paulo desmatou 92% da sua mata atlântica, provocou milhares de quilômetros de erosão e criou um desastre ambiental para os rios", disse Mário Mantovani, diretor da ONG ambiental Fundação SOS Mata Atlântica.
Dados coletados pela ONG em estudo conjunto com o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que, por ano, cerca de 13 mil hectares de mata atlântica são derrubados no Estado de São Paulo. Cruzamento desse número com dados do Departamento Estadual de Proteção de Recursos Naturais aponta que uma de cada quatro dessas árvores fica na beira dos rios.
Rio e florestas vivem em simbiose. O solo na beira dos rios é, geralmente, rico em nutrientes. Em compensação, as raízes e as folhas garantem a vazão contínua da água ao longo do rio. A mata forma ainda uma barreira que filtra a chegada de agrotóxicos e impede que a água da chuva caia diretamente no solo, gerando erosão e assoreamento.



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