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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/MANUTENÇÃO
Técnicos afirmam fazer revisões sob pressão
Funcionários que fazem manutenção dos aviões da TAM dizem que aumento da demanda levou à cobrança por rapidez
Para eles, exigência de velocidade nas avaliações pode facilitar a ocorrência de falhas; Airbus-A320 é revisado em Congonhas
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O aumento na demanda de
vôos no Brasil nos últimos anos
contribuiu, segundo profissionais que fazem manutenção em
aeronaves da TAM em São Paulo ouvidos pela Folha, para que
a revisão nas aeronaves, principalmente nos hangares dos aeroportos de Cumbica e Congonhas, fosse feita sempre da maneira mais rápida possível.
Um engenheiro aeronáutico
da TAM, que falou sob condição de anonimato, disse que
existe uma pressão velada por
parte da chefia para que o trabalho de revisão nos aviões seja
feito o mais rápido possível.
Segundo ele, as ordens para
que isso ocorra não são diretas,
mas os funcionários que liberam os equipamentos mais rápido recebem o reconhecimento dos seus superiores. Assim,
afirma o engenheiro, alguns
detalhes da manutenção podem passar despercebidos.
Em média, ao passar pelo
chamado nível de verificação
"check A", o mais simples dos
quatro níveis de revisão, cem
itens têm de ser obrigatoriamente analisados pela equipe
de manutenção. O tempo necessário para isso seria, ainda
segundo esses profissionais da
TAM, de "pelo menos seis horas", mas esse prazo não estaria
sendo respeitado por conta do
alto número de decolagens.
Quando precisam de verificações mais complexas, por
conta de defeitos intermitentes, como se acredita ser o caso
do Airbus-A320 que caiu na
terça em Congonhas, os aviões
da TAM de todos os modelos
vão para os hangares do Centro
Tecnológico da empresa em
São Carlos (231 km de SP).
É lá que ocorrem as manutenções dos níveis "C", quando
a aeronave tem de ficar parada
por no mínimo cinco dias, e o
"D", que pára o avião no hangar
por cerca de meio mês.
Uma das frentes de investigação do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), órgão
vinculado ao Ministério da Defesa que apura os acidentes aéreos no país, será descobrir se o
Airbus-A320 que caiu terça tinha passado por essa manutenção nível "D" nos últimos 15
meses, como a própria equipe
de mecânicos da empresa e a
francesa Airbus, fabricante da
aeronave, recomendam.
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