São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2008

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Delegacia é depredada após morte de menina

Segundo testemunha, tiro foi disparado por um PM; revoltados, moradores queimaram delegacia, posto policial e a Câmara Municipal

Os nove presos que estavam na delegacia de Igarapé do Meio foram soltos; policial suspeito de ter atirado na menina de nove anos fugiu


SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA

Moradores de uma cidade do interior do Maranhão, revoltados com a morte de uma menina de nove anos -atingida por um tiro na cabeça-, depredaram a delegacia da cidade, o posto da Polícia Militar e a Câmara Municipal. Segundo testemunhas, a garota foi atingida por tiros dados por um PM.
O crime ocorreu na tarde de anteontem na pequena cidade de Igarapé do Meio, a cerca de 250 km de São Luís. A delegacia foi o alvo principal da população: foi incendiada e teve móveis e vidraças quebrados. Os nove presos que estavam no local foram soltos.
O posto da PM, que estava fechado, foi arrombado e teve os móveis retirados e queimados. A Câmara Municipal, que fica ao lado da delegacia, também foi depredada -parte do telhado ficou destruída.
Segundo a Polícia Civil em Santa Inês (254 km de São Luís), que abrange a delegacia de Igarapé do Meio, dois PMs e um carcereiro estavam na delegacia no momento do ataque. Eles não tiveram tempo para pedir reforços e fugiram em um carro, informou a polícia.

Morte da criança
Uma testemunha dos disparos contra a criança relatou à Polícia Civil que um policial militar à paisana estava bebendo em um bar, em um povoado de Igarapé do Meio, quando houve uma briga entre duas pessoas. Uma delas esfaqueou a outra e fugiu. O PM perseguiu o agressor, que fugiu atravessando um rio.
A testemunha disse que o policial militar fez vários disparos na direção do suspeito -e que um dos tiros acabou atingindo a menina.
O PM apontado como autor dos disparos estava desaparecido até as 23h30.
A garota, identificada como Cristiane, chegou a ser socorrida, mas chegou morta ao hospital municipal de Igarapé do Meio. Segundo o hospital, ela tinha um ferimento causado por arma de fogo na cabeça. A mãe da vítima, que está grávida, entrou em choque e teve que ser atendida no local.
A reportagem não conseguiu localizar familiares da menina ontem.
O comando da PM do Maranhão informou que foi instaurado um IPM (Inquérito Policial Militar) e que dois oficiais foram designados para apurar o que ocorreu.
Segundo a PM, o comandante da corporação só irá se manifestar sobre o caso após os oficiais apresentarem um relato da situação, o que só deverá ocorrer a partir de amanhã.
A Polícia Civil disse que circula na cidade a informação de que a PM foi acionada após uma tentativa de assalto ao bar e que o policial chegou atirando, o que não foi confirmado pela testemunha.
O pai da menina, José Raimundo Silva, disse à TV Globo que quer justiça no caso. "É uma coisa que perde um pedaço do coração da gente."
De acordo com o agente Sandro Vasconcellos, chefe-de-gabinete da Delegacia Regional de Santa Inês, será aberto inquérito para apurar a morte da menina e a depredação dos órgãos públicos. Ele esteve em Igarapé do Meio ontem para investigar o caso.
Segundo Vasconcellos, dois dos nove presos libertados no ataque se apresentaram ontem à polícia. A cidade, com cerca de 10 mil habitantes, não tem Corpo de Bombeiros -o fogo foi apagado com a ajuda de um carro-pipa da prefeitura.
Até o início da noite de ontem, a Secretaria da Segurança do Maranhão não havia se manifestado sobre o episódio.


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