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Religião não evita fim do casamento
Proporção de mulheres separadas praticamente não se altera conforme opção de igreja, aponta pesquisa
Sucesso da união está
mais ligado a fatores
como distribuição das
tarefas familiares e
domésticas entre o casal
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
O que Deus uniu o homem
separa. Um cruzamento entre dados de estado conjugal
e religião realizado pelo Núcleo de Estudos de População (Nepo) da Unicamp a pedido da Folha mostra que a fé não segura casamentos.
A proporção das mulheres
separadas, desquitadas ou
divorciadas de cada igreja é
muito similar à distribuição
das crenças pela população.
A base utilizada foi a Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da
Mulher, de 2006, do Ministério da Saúde e abarca mulheres em idade reprodutiva (entre 15 e 49 anos).
Se é relativamente fácil
constatar que a fé não mantém casais unidos, bem mais
difícil é descobrir o que o faz.
Segundo a pesquisadora
Joice Melo Vieira, que cruzou
os dados, estudos no Brasil e
no exterior mostram que a
preocupação é estar em relações satisfatórias. Como a separação já não é tão estigmatizada, o fim da união é sempre uma possibilidade quando as coisas vão mal.
No final, relata Vieira, o
que faz casais à beira da separação pensarem duas vezes são a situação dos filhos e
a questão financeira. Como
hoje mais mulheres trabalham, a dependência econômica não segura mais o casamento. Já os filhos o fazem
apenas por tempo limitado.
Estudos europeus apontam que durante a gravidez e
o primeiro ano de vida da
criança é mais baixa a chance de os pais se separarem.
Mas, à medida que os filhos crescem, esse deixa de
ser um fator importante, e a
probabilidade de separação
volta a ser igual à de casais
que nunca tiveram filhos.
RELAÇÃO IGUALITÁRIA
Embora não haja uma receita para o sucesso da
união, existem fatores preponderantes. O mais eficiente é a distribuição das tarefas
familiares e domésticas entre
o homem e a mulher. Quanto
mais igualitária for, menores
são os riscos de ruptura.
A maioria dos religiosos
ouvidos pela Folha não se
surpreendeu com os dados.
Para o padre Eduardo
Henriques, a religião "entra
em diálogo com outros elementos da cultura e há níveis
diferentes de adesão à fé". Há
desde o sujeito que se casa na
igreja só para contentar a família até os que realmente
creem no sacramento.
O pastor batista Adriano
Trajano é mais veemente:
"Religião não segura nada. O
casamento deve estar seguro
por amor, confiança, caráter
e dedicação. Nenhuma dessas virtudes é conferida pela
religião. O indivíduo precisa
ser educado nelas".
Marcos Noleto, teólogo adventista, diz que o abismo
entre teoria e prática vai além
do casamento: "Em números
redondos: só 20% são dizimistas; 30% frequentam os
cultos do meio de semana".
Uma exceção parcial é o
pastor luterano Waldemar
Garcia Jr.: "As estatísticas podem até afirmar algo diferente, mas vejo que a religião auxilia na manutenção saudável das relações. Temos um
trabalho de aconselhamento, com função preventiva".
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