São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2010

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Hotéis no Guarujá viram depósito de operários e vizinhos reclamam

Usiminas alojou funcionários de Cubatão em três locais sem condições de segurança e higiene

No total, a prefeitura encontrou 25 hotéis, pousadas e casas que alojam 1.200 operários da siderúrgica na cidade

JAMES CIMINO
ENVIADO ESPECIAL AO GUARUJÁ

A Usiminas está alojando operários em 25 locais do Guarujá (entre casas, hotéis e pousadas) em condições precárias de segurança e higiene, segundo a prefeitura, para a qual os homens "são tratados como escravos".
Muitos estão hospedados desde março deste ano em hotéis nas principais praias da cidade, como Enseada, Pitangueiras e Pernambuco, o que tem provocado reclamações da vizinhança.
Vindos de outros Estados, os operários dormem na cidade e, durante o dia, trabalham em uma obra da siderúrgica em Cubatão.
Na segunda, o hotel turístico Guarujá Inn, na praia da Enseada, foi interditado pela Vigilância Sanitária.
No local, há 110 leitos e capacidade para 250 pessoas, mas a Vigilância diz ter encontrado cerca de 400 homens, entre mecânicos, encanadores e construtores.
Os operários, no entanto, ainda não foram retirados do local. A prefeitura aguarda que a Usiminas encontre um novo espaço para instalá-los.
Os quartos do hotel, para duas pessoas, foram preenchidos com até três beliches. A Folha viu colchões espalhados pelo lobby.
Em toda a cidade, são 1.200 operários da Usiminas, e o número vai crescer em breve para 5.000. O litoral de SP vive um boom de investimentos e expectativa de crescimento para os próximos anos.

RATOS
Segundo relatos dos operários e imagens divulgadas pela Vigilância Sanitária, no local há ratos, goteiras e pedaços do forro de gesso que chegam a cair sobre os frequentadores do hotel.
As descargas dos banheiros não funcionam, não há fechaduras nas portas e nos fins de semana chega a faltar até água potável. Alguns dos alojados chegaram a cozinhar em fogareiros nos corredores -uma das paredes está manchada de carvão.

CARANDIRU E COXINHA
Do lado de fora, é possível ver roupas e sapatos estendidos nas sacadas. As janelas dos banheiros estão tampadas com chapas de madeira, outras, com lona preta.
"Isso aqui "tá" parecendo o Carandiru, meu filho", diz Maria das Dores de Moura, 65, sub-síndica do condomínio Saint Paul e Saint Peter, que fica em frente ao hotel.
A moradora diz, no entanto, que não tem nada contra os operários. "O problema é que eles acordam 5h30 para trabalhar e fazem barulho."
"Não é legal esse monte de homem aqui. Imagine ver sua filha saindo de casa e os caras mexendo. Tem peão que não respeita", disse um mecânico capixaba, que já trabalhou na Usiminas.
Segundo a prefeita do Guarujá, Maria Antonieta de Brito (PMDB), os vizinhos fazem fotos e registram reclamações na ouvidoria.
"O Guarujá não é cidade dormitório e não será transformado em um depósito de gente", diz a prefeita.
Para Tereza Boccalini, administradora do Hotel Guarujá Inn, a reação é xenófoba.
"O problema é que tem peão no meio da elite. Você precisava ver quando eles chegaram. Eles rolavam na areia! Acho que muitos deles nunca tinham visto o mar! Aí a elite de São Paulo chega aqui e vê um monte de gente rolando que nem coxinha na praia. Eles não querem isso."


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