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Hotéis no Guarujá viram depósito de operários e vizinhos reclamam
Usiminas alojou funcionários de Cubatão em três locais sem condições de segurança e higiene
No total, a prefeitura encontrou 25 hotéis, pousadas e casas que alojam 1.200 operários da siderúrgica na cidade
JAMES CIMINO
ENVIADO ESPECIAL AO GUARUJÁ
A Usiminas está alojando
operários em 25 locais do
Guarujá (entre casas, hotéis e
pousadas) em condições precárias de segurança e higiene, segundo a prefeitura, para a qual os homens "são tratados como escravos".
Muitos estão hospedados
desde março deste ano em
hotéis nas principais praias
da cidade, como Enseada, Pitangueiras e Pernambuco, o
que tem provocado reclamações da vizinhança.
Vindos de outros Estados,
os operários dormem na cidade e, durante o dia, trabalham em uma obra da siderúrgica em Cubatão.
Na segunda, o hotel turístico Guarujá Inn, na praia da
Enseada, foi interditado pela
Vigilância Sanitária.
No local, há 110 leitos e capacidade para 250 pessoas,
mas a Vigilância diz ter encontrado cerca de 400 homens, entre mecânicos, encanadores e construtores.
Os operários, no entanto,
ainda não foram retirados do
local. A prefeitura aguarda
que a Usiminas encontre um
novo espaço para instalá-los.
Os quartos do hotel, para
duas pessoas, foram preenchidos com até três beliches.
A Folha viu colchões espalhados pelo lobby.
Em toda a cidade, são
1.200 operários da Usiminas,
e o número vai crescer em
breve para 5.000. O litoral de
SP vive um boom de investimentos e expectativa de crescimento para os próximos
anos.
RATOS
Segundo relatos dos operários e imagens divulgadas
pela Vigilância Sanitária, no
local há ratos, goteiras e pedaços do forro de gesso que
chegam a cair sobre os frequentadores do hotel.
As descargas dos banheiros não funcionam, não há
fechaduras nas portas e nos
fins de semana chega a faltar
até água potável. Alguns dos
alojados chegaram a cozinhar em fogareiros nos corredores -uma das paredes está
manchada de carvão.
CARANDIRU E COXINHA
Do lado de fora, é possível
ver roupas e sapatos estendidos nas sacadas. As janelas
dos banheiros estão tampadas com chapas de madeira,
outras, com lona preta.
"Isso aqui "tá" parecendo o
Carandiru, meu filho", diz
Maria das Dores de Moura,
65, sub-síndica do condomínio Saint Paul e Saint Peter,
que fica em frente ao hotel.
A moradora diz, no entanto, que não tem nada contra
os operários. "O problema é
que eles acordam 5h30 para
trabalhar e fazem barulho."
"Não é legal esse monte de
homem aqui. Imagine ver
sua filha saindo de casa e os
caras mexendo. Tem peão
que não respeita", disse um
mecânico capixaba, que já
trabalhou na Usiminas.
Segundo a prefeita do
Guarujá, Maria Antonieta de
Brito (PMDB), os vizinhos fazem fotos e registram reclamações na ouvidoria.
"O Guarujá não é cidade
dormitório e não será transformado em um depósito de
gente", diz a prefeita.
Para Tereza Boccalini, administradora do Hotel Guarujá Inn, a reação é xenófoba.
"O problema é que tem
peão no meio da elite. Você
precisava ver quando eles
chegaram. Eles rolavam na
areia! Acho que muitos deles
nunca tinham visto o mar! Aí
a elite de São Paulo chega
aqui e vê um monte de gente
rolando que nem coxinha na
praia. Eles não querem isso."
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