FELIPE CARUSO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Por três anos, os companheiros da Rádio Educadora de Juina (MT) conviveram com Douglas João de Almeida sem saber que a voz grave do radialista fizera parte do grupo Nilo Amaro e Seus Cantores de Ébano, sucesso da MPB dos anos 60.
Douglas Junior, como era conhecido, tinha vergonha de contar sua história, diz Salmo Silva, diretor da rádio.
"Ele não se orgulhava de ter deixado mulher e filho para seguir carreira de cantor."
Filho de Durvalino e Ernestina, Douglas nasceu em Taquaritinga (SP). Casou-se e foi para São Paulo, onde conheceu integrantes de seu futuro grupo.
O conjunto formado por negros trazia essa característica também em sua música, com um coro de nove vozes influenciado pelo som dos negros americanos e cantando lamentos sertanejos.
Douglas deixou a família e foi para o Rio gravar um disco. O grupo estourou com músicas como "Uirapuru" e "Leva eu Sodade".
Os Cantores de Ébano fizeram shows no exterior. Douglas contava que em um deles, nos EUA, o empresário do grupo fugiu com o dinheiro. Eles só voltaram ao Brasil com ajuda da embaixada.
O grupo acabou e Douglas virou empresário de novos músicos, mas sem sucesso. Sem coragem de voltar para a família, foi viajar pelo Brasil.
Há 10 anos, após passar por Pará e Acre, chegou a Juina e pediu emprego na rádio Educativa. Passou a apresentar um programa romântico, no qual contava histórias dos artistas que conheceu.
Morreu no domingo, aos 74, em Cuiabá, de falência múltipla dos órgãos.

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