São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 2000


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IMPRENSA
Defesa diz que Pimenta Neves, suspeito de matar ex-namorada, vai se apresentar no dia em que a polícia marcar audiência
Decretada prisão temporária de jornalista

DA REPORTAGEM LOCAL

A Justiça de São Paulo decretou ontem a prisão temporária do diretor de Redação de "O Estado de S. Paulo", Antônio Marcos Pimenta Neves, 63, suspeito de ter assassinado a tiros a também jornalista Sandra Florentino Gomide, 32. Ela era sua ex-namorada.
A decisão saiu de madrugada, por volta das 3h45, assinada pelo juiz de Sorocaba Maurício Valala, 39, que fazia o plantão judiciário do último fim-de-semana. O homicídio ocorreu anteontem em Ibiúna (70 km de São Paulo).
"Os indícios do crime e o desaparecimento do acusado foram os principais motivos para a ordem de prisão", disse o juiz.
O corpo de Sandra foi encontrado com dois tiros -um na cabeça e outro nas costas- anteontem à tarde, em um haras.
Uma testemunha viu o jornalista manobrando o carro e saindo do local logo após ouvir os disparos, informou a polícia.
Os dois namoraram durante pelo menos três anos e terminaram recentemente.
Há duas semanas, a jornalista procurou a polícia para dar queixa do ex-namorado, alegando que havia sido agredida e ameaçada por ele em seu apartamento.
A advogada Paola Zanelato, assistente do criminalista Antonio Claudio Mariz Oliveira, que assumiu a defesa de Pimenta Neves, disse que seu cliente aguarda a polícia agendar dia e horário da audiência para se apresentar.
""Não havia motivo para a decretação da prisão, porque ele não está foragido nem atrapalhando a investigação", disse, citando motivos que, segundo a lei, poderiam justificar a decretação da prisão.
Segundo a polícia, após os disparos, Pimenta Neves saiu do haras em um Renault Clio. O carro foi encontrado abandonado pela polícia no final da noite de anteontem a aproximadamente 3 km do local do homicídio.
""Um segundo veículo, ainda não identificado, o ajudou a fugir", diz o delegado Carlos Alberto Ferreira Sato, da 1ª Delegacia do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa)
Ontem, policiais apreenderam munição -dez balas de revólver calibre 38 e 32 para pistola calibre 380- no sítio do jornalista em São Roque (SP). Também encontraram fitas cassetes, com supostas conversas entre ele e Sandra, que serão enviadas para perícia.
A polícia também pegou fitas da secretária eletrônica do apartamento de Sandra que teriam ameaças gravadas do jornalista. Um computador, que teria e-mails enviados por Pimenta Neves a ela, também foi apreendido.
Os advogados de defesa podem recorrer da decretação da prisão do jornalista por 30 dias. Até o fechamento desta edição, isso ainda não havia sido feito.
A pena para quem é condenado por homicídio qualificado (em que é usado recurso que dificulta ou torna impossível a defesa da vítima) é de 12 anos a 30 anos de prisão. Para o homicídio simples, é de seis anos a 20 anos.

Ameaça
Sandra deu queixa do namorado à polícia duas semanas antes de ser assassinada, segundo boletim de ocorrência nº 3837/2000, registrado no 36º DP (Paraíso).
A briga entre os dois ocorreu no apartamento dela, na Vila Mariana (zona sul de São Paulo), no último dia 5, sábado. Pimenta Neves teria entrado sozinho, aproveitando a ausência da jornalista, para recolher jóias e roupas que havia dado de presente a ela.
Segundo a polícia, ele se escondeu no armário do quarto e ficou esperando Sandra chegar. É no instante em que ela entrou em casa, sozinha, que teria acontecido a a agressão e a ameaça.
O pai de Sandra, João Gomide, 60, acredita que a filha só não foi morta no dia 5 porque ele ligou para ela no momento que Pimenta Neves estava no apartamento.
Assustado, Gomide disse que telefonou então para o tio de Sandra, Carlos Renato Florentino, e pediu que ele fosse imediatamente ao local. "Se não fosse isso, ela teria sido morta naquele dia", diz.
A jornalista passou por exame de corpo de delito -para comprovar a violência física- e deveria ser ouvida pela delegada do caso no próximo dia 28. O inquérito tramitava na 2ª DDM (Delegacia de Defesa da Mulher). Pimenta Neves seria ouvido depois.
O caso foi recuperado ontem pela equipe do DHPP, como uma das provas contra o jornalista.
O incidente no apartamento provocou surpresa nos familiares, que descrevem o relacionamento de Sandra e Neves "como discreto e sem brigas".
Cerca de 50 pessoas, entre familiares e amigos, compareceram ao enterro da jornalista, ontem à tarde, no cemitério Horto Florestal (zona norte de São Paulo).
O pai de Sandra era o mais revoltado. "Queria ter sido o escuro, queria ter morrido no lugar dela", afirmou. "Eu pedi a ele para deixá-la sossegada, e ele prometeu que tudo tinha acabado."
Na véspera do crime, tanto Sandra quanto Pimenta Neves estiveram no Haras Setti, mas não se encontraram. Ele chegou às 7h, foi andar a cavalo e voltou às 14h. Sandra chegou às 17h.
Antes de ir embora naquele dia, Pimenta Neves havia pedido a Deomar Setti, dono do local, autorização para dormir, quando necessário, no seu trailer de cavalos, que fica na garagem do haras.
O delegado titular de Ibiúna, José Chaves de Mello, disse não acreditar que o crime tenha sido premeditado.


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