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IMPRENSA
Defesa diz que Pimenta Neves, suspeito de matar ex-namorada, vai se apresentar no dia em que a polícia marcar audiência
Decretada prisão temporária de jornalista
DA REPORTAGEM LOCAL
A Justiça de São Paulo decretou
ontem a prisão temporária do diretor de Redação de "O Estado de
S. Paulo", Antônio Marcos Pimenta Neves, 63, suspeito de ter
assassinado a tiros a também jornalista Sandra Florentino Gomide, 32. Ela era sua ex-namorada.
A decisão saiu de madrugada,
por volta das 3h45, assinada pelo
juiz de Sorocaba Maurício Valala,
39, que fazia o plantão judiciário
do último fim-de-semana. O homicídio ocorreu anteontem em
Ibiúna (70 km de São Paulo).
"Os indícios do crime e o desaparecimento do acusado foram os
principais motivos para a ordem
de prisão", disse o juiz.
O corpo de Sandra foi encontrado com dois tiros -um na cabeça
e outro nas costas- anteontem à
tarde, em um haras.
Uma testemunha viu o jornalista manobrando o carro e saindo
do local logo após ouvir os disparos, informou a polícia.
Os dois namoraram durante pelo menos três anos e terminaram
recentemente.
Há duas semanas, a jornalista
procurou a polícia para dar queixa do ex-namorado, alegando que
havia sido agredida e ameaçada
por ele em seu apartamento.
A advogada Paola Zanelato, assistente do criminalista Antonio
Claudio Mariz Oliveira, que assumiu a defesa de Pimenta Neves,
disse que seu cliente aguarda a
polícia agendar dia e horário da
audiência para se apresentar.
""Não havia motivo para a decretação da prisão, porque ele não
está foragido nem atrapalhando a
investigação", disse, citando motivos que, segundo a lei, poderiam
justificar a decretação da prisão.
Segundo a polícia, após os disparos, Pimenta Neves saiu do haras em um Renault Clio. O carro
foi encontrado abandonado pela
polícia no final da noite de anteontem a aproximadamente 3
km do local do homicídio.
""Um segundo veículo, ainda
não identificado, o ajudou a fugir", diz o delegado Carlos Alberto Ferreira Sato, da 1ª Delegacia
do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa)
Ontem, policiais apreenderam
munição -dez balas de revólver
calibre 38 e 32 para pistola calibre
380- no sítio do jornalista em
São Roque (SP). Também encontraram fitas cassetes, com supostas conversas entre ele e Sandra,
que serão enviadas para perícia.
A polícia também pegou fitas da
secretária eletrônica do apartamento de Sandra que teriam
ameaças gravadas do jornalista.
Um computador, que teria e-mails enviados por Pimenta Neves a ela, também foi apreendido.
Os advogados de defesa podem
recorrer da decretação da prisão
do jornalista por 30 dias. Até o fechamento desta edição, isso ainda
não havia sido feito.
A pena para quem é condenado
por homicídio qualificado (em
que é usado recurso que dificulta
ou torna impossível a defesa da
vítima) é de 12 anos a 30 anos de
prisão. Para o homicídio simples,
é de seis anos a 20 anos.
Ameaça
Sandra deu queixa do namorado à polícia duas semanas antes
de ser assassinada, segundo boletim de ocorrência nº 3837/2000,
registrado no 36º DP (Paraíso).
A briga entre os dois ocorreu no
apartamento dela, na Vila Mariana (zona sul de São Paulo), no último dia 5, sábado. Pimenta Neves teria entrado sozinho, aproveitando a ausência da jornalista,
para recolher jóias e roupas que
havia dado de presente a ela.
Segundo a polícia, ele se escondeu no armário do quarto e ficou
esperando Sandra chegar. É no
instante em que ela entrou em casa, sozinha, que teria acontecido a
a agressão e a ameaça.
O pai de Sandra, João Gomide,
60, acredita que a filha só não foi
morta no dia 5 porque ele ligou
para ela no momento que Pimenta Neves estava no apartamento.
Assustado, Gomide disse que
telefonou então para o tio de Sandra, Carlos Renato Florentino, e
pediu que ele fosse imediatamente ao local. "Se não fosse isso, ela
teria sido morta naquele dia", diz.
A jornalista passou por exame
de corpo de delito -para comprovar a violência física- e deveria ser ouvida pela delegada do caso no próximo dia 28. O inquérito
tramitava na 2ª DDM (Delegacia
de Defesa da Mulher). Pimenta
Neves seria ouvido depois.
O caso foi recuperado ontem
pela equipe do DHPP, como uma
das provas contra o jornalista.
O incidente no apartamento
provocou surpresa nos familiares,
que descrevem o relacionamento
de Sandra e Neves "como discreto
e sem brigas".
Cerca de 50 pessoas, entre familiares e amigos, compareceram ao
enterro da jornalista, ontem à tarde, no cemitério Horto Florestal
(zona norte de São Paulo).
O pai de Sandra era o mais revoltado. "Queria ter sido o escuro,
queria ter morrido no lugar dela",
afirmou. "Eu pedi a ele para deixá-la sossegada, e ele prometeu
que tudo tinha acabado."
Na véspera do crime, tanto Sandra quanto Pimenta Neves estiveram no Haras Setti, mas não se
encontraram. Ele chegou às 7h,
foi andar a cavalo e voltou às 14h.
Sandra chegou às 17h.
Antes de ir embora naquele dia,
Pimenta Neves havia pedido a
Deomar Setti, dono do local, autorização para dormir, quando
necessário, no seu trailer de cavalos, que fica na garagem do haras.
O delegado titular de Ibiúna, José Chaves de Mello, disse não
acreditar que o crime tenha sido
premeditado.
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