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No Rio, medo do tráfico causa fechamento de cem lojas
MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO
Impedidos pela PM (Polícia Militar) de fechar o comércio no Jacarezinho (zona norte do Rio) para homenagear o "chefão" Waldir
Ferreira, o Vado, morto anteontem pela polícia, os traficantes da
favela ordenaram o fechamento
de cem lojas e quatro escolas em
cinco ruas do bairro do Cachambi, a 6 km de distância.
O chefe da Polícia Civil, Zaqueu
Teixeira, disse que abrirá inquérito para investigar a possibilidade
de Vado ter sido morto por "queima de arquivo". Para ele, "era melhor para a polícia ter Vado vivo".
"Estávamos próximos de prendê-lo, mas ele acabou morto em
uma ação policial", disse.
Vado é o traficante que falava
com o cantor Marcelo Pires Vieira, o Belo, em gravações divulgadas pela Polícia Civil. Nas conversas, os dois negociariam armas e
drogas, segundo inquérito da Delegacia de Repressão a Ações Organizadas e Inquéritos Especiais
da Polícia Civil.
O traficante, que tinha 33 anos,
foi morto na noite de anteontem
em tiroteio com policiais do 3º
BPM (Batalhão da Polícia Militar). No confronto, o cúmplice
Cláudio de Moraes Silva, o Macarrão, 19, também morreu e sete
pessoas, entre elas uma menina
de quatro anos, foram feridas por
tiros e estilhaços de granada.
Contraste
A PM ocupou a favela com cem
homens do Batalhão de Choque,
Getam (Grupamento Tático Móvel) e 3º BPM. Com isso, o clima
na favela era tranquilo.
A situação era diferente no Cachambi, policiado por apenas
duas patrulhas. Segundo os comerciantes, por volta das 9h, um
homem passou de bicicleta e ordenou o fechamento das lojas.
Segundo um comerciante, o
mensageiro do tráfico disse que
voltaria às 13h para conferir se as
lojas estavam fechadas.
Os alunos de escolas do bairro
foram surpreendidos com a suspensão das aulas. Cerca de 1.600
estudantes ficaram sem aulas. O
colégio Célio Rodrigues fechou
suas duas unidades no bairro.
A Escola Municipal José Linhares também não funcionou. Desesperados, pais chegaram a retirar os filhos das sala de aula. O
movimento de pessoas nas ruas
era pequeno.
O comandante do 3º BPM, tenente-coronel Paulo Mouzinho,
minimizou a importância do episódio. "O que ocorreu foi um efeito cascata. Eu não posso obrigá-los a abrir as lojas", afirmou.
A PM enviou 50 homens ao cemitério de Inhaúma (zona norte),
onde Vado e Macarrão seriam enterrados. O sepultamento foi
adiado para hoje.
O comandante disse que abrirá
sindicância para apurar se os tiros
que acertaram os sete feridos foram disparados por policiais.
"Seria uma hipocrisia minha se
descartasse a possibilidade de os
tiros que atingiram inocentes terem sido disparados por policiais.
Na hora do tiroteio, havia muita
gente na rua", declarou ele.
Elaine Danembergue Carilo, 22,
teve parte da panturrilha direita
atingida por um tiro de fuzil. Ela
disse que a polícia agiu com truculência. "Estava em um bingo
quando a polícia chegou atirando", afirmou.
Maluco
O secretário de Segurança Pública do Estado do Rio, Roberto
Aguiar, levantou ontem a possibilidade de o traficante Elias Pereira
da Silva, o Elias Maluco, morrer
antes de ser preso pela polícia.
Questionado sobre a possibilidade de Elias Maluco ser morto
durante uma operação policial,
assim como aconteceu com outros quatro traficantes ligados a
ele nos últimos dias, Aguiar respondeu: "Elias Maluco tem um
aparato suicida".
"É por isso que estamos tendo
muito cuidado. Tem que ser uma
operação cirúrgica", completou o
secretário.
Elias Maluco é apontado pela
polícia como chefe do bando que,
no dia 2 de junho, matou o jornalista Tim Lopes, da TV Globo.
Colaborou SABRINA PETRY, da Sucursal do Rio
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