São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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QUEIMADA

Sete Estados registram focos de incêndio; área protegida na Chapada dos Guimarães (MT) está em chamas

Fogo ameaça florestas da região amazônica

JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA

O momento econômico favorável para o plantio, o clima seco e a falta de fiscalização criam um ambiente perfeito para a proliferação de incêndios florestais no país.
Nos primeiros 20 dias de agosto, o Estado do Pará registrou mais focos de calor -pontos que podem representar fogo- do que os 30 dias do mesmo mês em 2003 (veja quadro). Na semana passada, 15% do Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais, foram devastados pelo fogo. Outros Estados da Amazônia seguem o mesmo caminho.
Um problema adicional que põe as autoridades ambientais em alerta é que, até a última sexta-feira, dez unidades de conservação -áreas protegidas por lei devido a suas diversidades e importância de fauna e flora- estavam em chamas.
Na Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, uma área protegida de 327 km2, 28 homens tentavam debelar o fogo provocado acidentalmente por uma comunidade rural, que, ao preparar o solo para plantio, usou a queimada, mas perdeu o controle, segundo o Prevfogo (Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais).
Nesse Estado -um dos mais problemáticos em relação às queimadas-, sete municípios estavam em alerta amarelo (risco iminente de fogo) e outros quatro em alerta verde (em alerta para fogo).
No Pará, também em situação crítica, nesses primeiros 20 dias do mês já foram registrados 9.813 focos de calor contra os 6.083 de agosto de 2003.
Rondônia, Amazonas, Tocantins e Acre também registram uma quantidade preocupante de focos de incêndio.
"Temos um dos melhores sistemas de detecção de fogo do mundo, mas falta ao país a parte efetiva, mecanismos de controlar as queimadas, que estão cada vez mais negligenciadas. Nem nas nossas áreas de conservação estão conseguindo impedir o uso indiscriminado do fogo. O combate, que é uma medida emergencial, é precário", declarou Alberto Setzer, pesquisador do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), responsável pelo monitoramento das queimadas no Brasil.
Para tentar evitar que o ritmo de degradação na Amazônia -boa parte provocada pelos incêndios- chegue a patamares como os do ano passado, quando foram destruídos cerca de 25 mil km2 de vegetação, área maior que o Estado de Sergipe, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) instalou 19 bases de vigilância em cinco Estados, capacitou 1.280 pessoas para ajudar no combate ao fogo e distribuiu 42 kits para enfrentar labaredas.
"Fizemos muito neste ano em relação à prevenção. O governo federal deu um sinal claro de investimento na educação para evitar o fogo. Mas algumas medidas fogem da nossa competência. Nas margens de vias públicas, não há um palmo de aceiro [espécie de cerca que protege a vegetação], não houve limpeza. Na maioria das unidades de conservação estaduais, não há funcionários. Nas áreas indígenas, as comunidades têm a tradição de queimar para fazer suas roças", declarou Romildo Gonçalves, coordenador do Prevfogo em Mato Grosso.
E o período de risco de grandes incêndios apenas começou. Para os meses de setembro e outubro, a previsão é de continuidade das condições de propagação do fogo.
"Os ciclos naturais, como a época de seca, existem todos os anos. Porém as queimadas são provocadas por pessoas, têm origem proposital. Vegetação não queima sozinha. Se há fogo, há um culpado", disse Setzer.


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