São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 2006

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Metrô acumula "buraco" de R$ 48 milhões

Déficit de janeiro a julho é 300% maior do que no mesmo período de 2005; secretário pede mais R$ 20 milhões ao Estado

Necessidade de equilibrar as contas é argumento de empresa para reivindicar reajuste da tarifa, que está sem aumento há 18 meses


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Metrô de São Paulo acumulou um "buraco" de R$ 48 milhões em suas contas nos primeiros sete meses de 2006.
O déficit, 300% superior ao do mesmo período de 2005 (quando beirou R$ 12 milhões), é a principal alegação da empresa para querer reajuste da tarifa, de R$ 2,10 para R$ 2,30.
O presidente do Metrô, Luiz Carlos Frayze David, disse na semana passada, em entrevista à Folha, que já havia exposto ao governador Cláudio Lembo (PFL) a necessidade do aumento, mas que via dificuldades num momento eleitoral.
"Não vamos ser hipócritas. É muito difícil conseguir um reajuste da tarifa às vésperas da eleição", disse. Lembo apóia as candidaturas dos tucanos Geraldo Alckmin (Presidência) e José Serra (governo paulista).
O crescimento do déficit se deu em meio à integração da rede metroviária ao bilhete único, iniciada no fim de 2005.
A gestão Lembo atribui a disparada a fatores diversos, principalmente ao aumento das gratuidades -usuários que viajam sem pagar ou com descontos, como estudantes e idosos.
O secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes, diz que já pediu um reforço de R$ 20 milhões de subsídios do Estado (15% da previsão de 2006), mas afirma ser possível reverter esse quadro mesmo sem elevar a tarifa.
O Metrô de São Paulo sempre exaltou a importância de ter as contas equilibradas, independentes de verba do governo -exceto para gratuidades. A empresa avalia que essa é uma das razões do sucesso de sua imagem, ajudando também na obtenção de empréstimos.
Na última terça, em entrevista à Folha, o presidente do Metrô falou sobre a necessidade da elevação da passagem.
As declarações foram dadas enquanto ele justificava a diferença da tarifa atual para a da remuneração do concessionário da linha 4 (Luz-Vila Sônia), que está em obras e deve ser repassada à iniciativa privada.
"Faz um ano e oito meses que a tarifa do Metrô não é reajustada. Nós vamos lutar desesperadamente, como empresa, até para continuar existindo, que a tarifa do Metrô seja reajustada", disse, citando, em seguida, a passagem de R$ 2,30.
Um dia depois, em nota à imprensa, a direção do Metrô recuou e negou negociar qualquer elevação. Afirmou que "não há data prevista" para nenhum aumento "nem antes nem depois das eleições".
Desde a data do último reajuste, em janeiro de 2005, a inflação acumulada pelo IPCA beira 8%. As despesas saltaram 10,5%, ante 3,8% de alta das receitas. Os empregados tiveram dois dissídios no período.
De janeiro a julho de 2005, os gastos do Metrô superaram as receitas em 2,12%. Em 2006, esse déficit atingiu 8,73%.
Embora seja apontada por alguns como solução para ajustar a situação financeira da companhia, a alta da passagem é sempre criticada por especialistas em transporte, para quem ela só acentua a exclusão dos mais pobres. Muitos defendem maior aporte de subsídios.

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