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Vale negociar com traficante para reduzir violência, afirma britânico
ANDRÉA MICHAEL
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Mark Trace, ex-chefe do
combate às drogas no Reino
Unido, diz que, como no Brasil
a violência é o principal problema associado ao tráfico, vale
até negociar com traficante para evitá-la. Mas o fundamental
é ter uma boa lei e cumpri-la.
Para o especialista, "a política antidrogas [dos EUA] para a
América Latina e os programas
de ajuda vinculados a ela foram
um desastre". "O Brasil não
achou um caminho a seguir,
uma estratégia", diz Trace, que
hoje dirige o Consórcio Internacional de Políticas para Drogas, com sede em Londres, e
participou do seminário no Rio.
FOLHA - Para o sr., não existe uma
solução universal para a questão
das drogas. Qual seria a mais indicada para o Brasil?
MARK TRACE - Todos os governos devem se colocar como
questão preliminar que problemas as drogas trazem consigo e
definir quais as suas prioridades para o enfrentamento. Se o
seu problema são os viciados,
sua prioridade deve ser a saúde
pública, como cuidar dos viciados e tirá-los dessa condição.
Nestes três dias aqui no Brasil, vejo que o principal problema é a relação entre drogas e
violência. Na Europa, as drogas
estão relacionadas a pequenos
roubos e furtos. Talvez um caminho seja usar a lei para criar
incentivos para evitar a violência. Sinalizar que, se houver
ações violentas associadas ao
tráfico, as penas serão maiores.
FOLHA - Ainda que a polícia tenha
que negociar com o traficante para
que não haja violência?
TRACE - Essa é uma possibilidade, mas apenas um exemplo.
Há muitas estratégias que se
pode seguir. A primeira e mais
importante é ter uma boa lei e
segui-la. Por isso acho fundamental esse debate sobre a lei
brasileira para deixar mais claros os critérios para distinguir
o traficante do consumidor.
É muito importante você dimensionar ações de tráfico em
que há envolvimento de traficantes, de quadrilhas, de menores, de armas de fogo, daquelas
que configuram um tráfico menor, que está na ponta, que não
envolve violência, que não é o
dono do esquema.
FOLHA - Legalizar resolve?
TRACE - Não acho. Não estou
aqui para dar uma solução para
esse debate. Cada país deve
achar sua solução. As pessoas
que acreditam que a legalização
vai resolver o problema estão
cometendo um erro.
FOLHA - O fato de ex-presidentes,
como o brasileiro FHC e o atual presidente norte-americano, Barack
Obama, admitirem ter fumado maconha muda alguma coisa?
TRACE - É um assunto muito difícil para políticos. Quando eu
fazia parte do governo do Reino
Unido [1997-2002], colocamos
isso na agenda do dia, como se
fosse algo trivial, aí a polêmica
se esvaziou. Mas voltou a ser tabu. Sou descrente de um debate
político sério porque sempre
descamba para o dividendo
eleitoral. É uma questão muito
cara você apresentar a legalização ou ser contra ela como bandeira eleitoral.
FOLHA - Que análise o sr. faz da política dos EUA de combate às drogas
na América Latina?
TRACE - A política antidrogas
para a América Latina e os programas de ajuda vinculados a
ela foram um desastre. Existe
um debate particular sobre a
Colômbia, sobre se a ajuda norte-americana ajudou ou não a
situação da segurança. Mas, de
maneira geral, a política dos
EUA de encorajar os países latino-americanos a travarem uma
"guerra às drogas" foi um erro.
Acho que isso foi feito por razões geopolíticas. Agora, com
uma nova administração, há
novas mensagens, eles condenaram a linguagem da "guerra
às drogas", mas não houve mudanças concretas.
FOLHA - O sr. é favorável à descriminalização das drogas?
TRACE - Não é uma questão
simples. Sou a favor da despenalização. Significa dizer que
essa prática continua a ser uma
ofensa com perfil criminal, mas
a penalidade é diferente, como,
dar ao acusado uma advertência, um serviço social, uma assistência médica.
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