São Paulo, sábado, 22 de agosto de 2009

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ANÁLISE

Vício permanece um problema insolúvel

Só o que podemos fazer em relação às drogas é escolher entre enfrentar a questão de forma racional ou emocional

HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O vício é um efeito colateral da evolução de nossos cérebros. Determinadas substâncias químicas ativam muito facilmente os centros de recompensa do cérebro e são associadas a sensações de prazer intenso.
Por razões não de todo conhecidas, algumas pessoas que experimentam e usam por certo tempo drogas que contenham tais substâncias passam a viver exclusivamente em função da memória desse prazer, desprezando tudo o mais: tornaram-se dependentes.
Até que se desenvolva uma droga capaz de dessensibilizar os centros de recompensa para tais substâncias (se é que isso é possível), o vício permanecerá um problema insolúvel. Só o que podemos fazer é escolher entre enfrentá-lo de forma racional ou emocional.
A vantagem de manter substâncias como maconha, cocaína e heroína fora da lei é que reduzimos as chances de elas virem a ser tão amplamente difundidas quanto o álcool. Enquanto o total de usuários de todas as drogas ilícitas não ultrapassa 4% da população, os alcoólatras chegam a 15%.
Já a principal desvantagem é a associação das drogas com o crime. Trata-se de um negócio fácil -em qual outra atividade ilegal a suposta vítima procura seu algoz?-, que proporciona aos traficantes enormes lucros e, portanto, poder para corromper estruturas do Estado.
Aqui é preciso cuidado. Ninguém deve ser ingênuo a ponto de achar que uma eventual legalização resolveria o problema da barbárie urbana em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Delinquentes que hoje vivem do comércio de drogas não se tornariam da noite para o dia respeitáveis homens de negócios. O mais provável é que migrassem para outras atividades criminosas. Ainda assim, seria razoável esperar que, no médio e longo prazos, parte da violência e da corrupção desaparecessem. O fim da Lei Seca nos EUA contribuiu para reduzir o poder dos gângsteres.
Outro benefício potencial da legalização seria a maior facilidade para os serviços de saúde chegarem ao dependente, oferecendo-lhes programas de recuperação e permitindo traçar políticas de redução de danos, como a troca de seringas e a distribuição de camisinhas.
Os defensores da legalização também argumentam que não cabe ao poder público impedir que um cidadão competente e informado dos riscos que corre faça mal a si próprio.


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