|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Vício permanece um problema insolúvel
Só o que podemos fazer em relação às drogas é escolher entre enfrentar a questão de forma racional ou emocional
HÉLIO SCHWARTSMAN
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O vício é um efeito colateral
da evolução de nossos cérebros.
Determinadas substâncias químicas ativam muito facilmente
os centros de recompensa do
cérebro e são associadas a sensações de prazer intenso.
Por razões não de todo conhecidas, algumas pessoas que
experimentam e usam por certo tempo drogas que contenham tais substâncias passam
a viver exclusivamente em função da memória desse prazer,
desprezando tudo o mais: tornaram-se dependentes.
Até que se desenvolva uma
droga capaz de dessensibilizar
os centros de recompensa para
tais substâncias (se é que isso é
possível), o vício permanecerá
um problema insolúvel. Só o
que podemos fazer é escolher
entre enfrentá-lo de forma racional ou emocional.
A vantagem de manter substâncias como maconha, cocaína e heroína fora da lei é que reduzimos as chances de elas virem a ser tão amplamente difundidas quanto o álcool. Enquanto o total de usuários de
todas as drogas ilícitas não ultrapassa 4% da população, os
alcoólatras chegam a 15%.
Já a principal desvantagem é
a associação das drogas com o
crime. Trata-se de um negócio
fácil -em qual outra atividade
ilegal a suposta vítima procura
seu algoz?-, que proporciona
aos traficantes enormes lucros
e, portanto, poder para corromper estruturas do Estado.
Aqui é preciso cuidado. Ninguém deve ser ingênuo a ponto
de achar que uma eventual legalização resolveria o problema
da barbárie urbana em cidades
como Rio de Janeiro e São Paulo. Delinquentes que hoje vivem do comércio de drogas não
se tornariam da noite para o dia
respeitáveis homens de negócios. O mais provável é que migrassem para outras atividades
criminosas. Ainda assim, seria
razoável esperar que, no médio
e longo prazos, parte da violência e da corrupção desaparecessem. O fim da Lei Seca nos EUA
contribuiu para reduzir o poder
dos gângsteres.
Outro benefício potencial da
legalização seria a maior facilidade para os serviços de saúde
chegarem ao dependente, oferecendo-lhes programas de recuperação e permitindo traçar
políticas de redução de danos,
como a troca de seringas e a distribuição de camisinhas.
Os defensores da legalização
também argumentam que não
cabe ao poder público impedir
que um cidadão competente e
informado dos riscos que corre
faça mal a si próprio.
Texto Anterior: Nadir de Almeida Bastos Waspe (1935-2009): Dona Nadir, seus remédios e a bronca no Juca Próximo Texto: Gripe suína: 876 escolas estaduais da capital repõem aulas hoje Índice
|