São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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Meu preço é maior, diz moradora do Jardim Pantanal

Mãe de três filhos recusa bolsa de R$ 300 da prefeitura e continua a viver em área inundada no último verão

Segundo município, 1.200 casas já foram demolidas no bairro da zona leste; dique é arma contra nova inundação

Eduardo Anizelli/Folhapress
Dagmar dos Santos estende roupas em sua casa no Jd. Pantanal, zona leste paulistana

CRISTINA MORENO DE CASTRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando as chuvas de dezembro encheram as ruas do Jardim Pantanal (zona leste), a água invadiu em mais de um metro de altura a casa de Dagmar dos Santos, 36. Mesmo assim, ela não saiu dali.
Tinha medo que invadissem a casa onde vive há 17 anos. Ela, o marido e três filhos ali ficaram durante os dois meses seguintes, enquanto a lama continuava expulsando os vizinhos.
Quando os funcionários da prefeitura lhe ofereceram o bolsa-aluguel de R$ 300, ela se indignou. "Meu preço é maior." Só sai dali se for indenizada por um preço "certo, digno e justo", que não soube mensurar.
Seu quarto, que ficava no térreo, foi, literalmente, para o brejo. Nos momentos mais críticos, no entanto, ela e a família continuaram dormindo na casa de dois andares da cunhada, que aceitou a oferta da prefeitura depois que a filha pegou leptospirose.
Doralice Lima, 39, sua vizinha, também preferiu ficar. Na rua, a última antes do dique que está sendo construído pela prefeitura, sobraram quatro moradores.
A auxiliar de limpeza se defende: "Por mais que seja área invadida, aqui é o suor da gente. Por que pagamos água, luz e esgoto, se não podemos ficar?", questiona.
A balconista Heloísa Ferreira da Silva, 29, ficou, mas sente medo. "Principalmente porque tenho um filho excepcional", diz.
Segundo ela, como paga aluguel, não recebeu oferta de dinheiro para sair dali. "As casas dos que saíram foram sendo todas demolidas."
Foi o que aconteceu com Neide Costa, 50, que foi para um apartamento da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano). Pouco depois, sua casa, comprada em 1993 sem documentos, foi demolida.

AÇÕES
Segundo a prefeitura, cerca de 1.200 imóveis foram demolidos por causa do risco de inundação. Desde o último verão, 10.191 famílias foram cadastradas, sendo que 3.753 recebem o auxílio-aluguel.
Em torno de 340 famílias foram para apartamentos da CDHU -prefeitura e Estado prometem construir 7.500 unidades habitacionais.
A prefeitura e o governo de SP começaram em abril a construir um dique de 1.400 metros de extensão, que circunda a área sujeita a inundações -a obra ainda não foi concluída. Cerca de 110 policiais militares patrulham a região para evitar invasões ou reocupações de imóveis por moradores antigos.


Colaborou JOSÉ BENEDITO DA SILVA


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