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Dicas furadas
Rumores distorcidos a respeito de multas e radares, amplamente divulgados na internet, confundem motoristas em São Paulo
ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO
Renato Oliveira, do serviço
156 da prefeitura paulistana,
tem resposta pronta quando
alguém liga avisando que,
por causa do trânsito parado,
circulou no horário do rodízio e agora quer um protocolo a fim de anular a multa.
"É informação falsa. Tem
quem ligue do meio da via
pública. Isso não existe, meu
senhor", repete ao telefone.
O atendimento é sereno,
mas não deixa de revelar certo cansaço de tanto negar a
dica falsa dada na internet.
O milagre de cancelar multa de rodízio é só mais um dos
boatos do trânsito reproduzidos mundo afora.
Quem acredita em tudo
aquilo que recebe por e-mail
pode até parar na cadeia.
Por exemplo, se estiver bêbado ao volante, crente de
que dará um drible no bafômetro com a "dica" de manter Coca-Cola e gelo na boca.
O "segredo" é veiculado
com discurso científico, citando suposta explicação
química. O "embasamento"
é desmentido por profissionais. "É bobeira. O aparelho
vai pegar aquilo que estiver
no organismo", diz Henrique
Hanser, tenente da PM.
A Folha ouviu órgãos públicos e especialistas sobre
mensagens eletrônicas que
invadem os computadores.
Em geral, elas veiculam
mentiras. Ou, ao menos, distorcem a verdade, dando como fato uma chance remota.
"Para confundir, às vezes
misturam informação real
com inventada", avalia Julyver Modesto de Araújo, mestre em direito pela PUC-SP.
"Os radares "arapucas"
agora estão embutidos nos
"guard-rails'", alerta um e-mail que mostra fotos e lista
mais de 20 endereços onde a
CET teria escondido radares
nas estruturas metálicas.
Os tais equipamentos não
existem em SP -do contrário, estariam ilegais, porque
a lei exige que sejam visíveis.
A maior parte dos endereços citados, porém, tem aparelhos para fiscalizar semáforo e excesso de velocidade
-mas jamais em guard-rail.
O spam recomenda: "não
pague multa". Cita que, para
quem cometeu infração leve
ou média (sem ser reincidente nos últimos 12 meses), basta ir ao órgão de trânsito para
substituir a penalidade por
uma advertência por escrito.
Com isso, "não paga nada".
O código de trânsito até
prevê a possibilidade dessa
advertência, caso avalie ser
mais educativo que a multa.
Na prática, porém, ela não
existe na maioria do país.
Outro e-mail cita que ter
seu carro furtado na área de
zona azul garante ressarcimento pela prefeitura, bastando acioná-la na Justiça.
Julyver diz que há decisão
judicial no interior paulista
com esse entendimento assim como diversas outras
com julgamento contrário.
"Todas as cinco ações movidas contra a CET foram ganhas pelo poder público",
afirma a companhia.
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