São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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HISTÓRIA

Interdição do pavilhão 9 decepciona curiosos

De condenado a empresário, Casa de Detenção atrai 4.130 visitantes

DA REPORTAGEM LOCAL

Empresários, aposentados, condenados, crianças com os pais e meninos de rua. Misturavam-se todos, ontem de manhã, na fila de espera para a abertura dos portões da Casa de Detenção -o maior presídio do país que, desativado há uma semana, está parcialmente aberto à visitação.
Pelos dois pavilhões aos quais o acesso está liberado -o 2 e o 7- passaram ontem -segundo dia de visita- 4.130 pessoas, muitas delas vindas de outros Estados.
Foi esse o caso das universitárias catarinenses Juliana Coelho, 20, e Luciana Santos, 20. Estudantes de enfermagem, elas fazem estágio no Presídio Masculino de Florianópolis e tentavam saber como os presos eram atendidos na Detenção. Mas o pavilhão-hospital -o 4- não será aberto. O que viram, não aprovaram.
"Achei ruim. A farmácia em Florianópolis é branquinha, limpinha, arrumadinha. E o atendimento lá é feito pela gente, não por presos", disse Juliana ao ver a farmácia do pavilhão 2, um lugar escuro, pequeno, frio e pichado.
No pavilhão 2, onde viviam os presos que trabalhavam, não é dado acesso às celas. Nele, circulando apenas pelo térreo, o visitante poderá ver uma exposição de apetrechos achados com os presos, o templo da Assembléia de Deus e casa de umbanda, além de diversas pinturas. Muitas delas, porém, não são de autoria dos presos -foram feitas pela equipe do filme "Carandiru", inédito.
Na área de sol do pavilhão 2 está a exposição montada com 111 portas para lembrar o massacre no pavilhão 9. O pavilhão 9, porém, está fechado -será destruído junto com o 6 e o 8 e, diz o governo, já está sendo preparado para isso. A interdição do palco do massacre causou decepção. "Vim só para ver o pavilhão 9. Deve ter alguma coisa errada", disse o empresário Lourival Pereira, 51.
O outro pavilhão parcialmente aberto à visitação é o 7, no qual se pode ver as celas com o frequente trinômio: mulheres nuas, símbolos de times de futebol e escritos religiosos. Pequenas, com banheiros sem divisória e frias, as celas despertavam diferentes reações. "Isso é o retrato da nossa sociedade, que transforma homens em bichos", disse o comerciante José Rocha, 64, de Santo André.
"Vim porque aqui nunca fiquei preso. Mas cadeia é sempre igual", disse José, 30, que ficou dois anos preso em Guarulhos por tráfico e está em liberdade condicional.


Casa de Detenção - av. Cruzeiro do Sul, 2.630, próxima ao metrô Carandiru, em São Paulo. Visitas: de ter. a dom., das 10h às 16h


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