São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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ENTREVISTA

Estudo prevê explosão de doenças do coração

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Cerca de 600 crianças cariocas foram acompanhadas e submetidas a exames médicos ao longo de dez anos por uma equipe da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). Agora, quando estão com 22 anos em média, constatou-se que a maioria desses jovens já forma população de risco para o coração: mais de um quinto está acima do peso, quase 20% têm hipertensão, cerca de 40% fumam e muitos têm colesterol elevado e não fazem exercícios.
O "Estudo do Rio de Janeiro" foi coordenado por Airton Brandão e será apresentado no 57º Congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que começou ontem em São Paulo. "São números altíssimos para uma população que poderia estar absolutamente saudável", diz Antonio Carlos Carvalho, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e presidente do congresso. A pesquisa "é um indicador de que estamos criando um caldo de cultura para uma epidemia de doenças cardiovasculares", diz Carvalho.
Salim Yusuf, da Universidade MacMaster, no Canadá, traz outra pesquisa preocupante. Dentro de 15 anos, por conta dos hábitos de vida, os países em desenvolvimento estarão vivendo uma explosão de doenças do coração.
O congresso reúne neste ano cerca de 8.000 médicos em busca de reciclagem, de novas pesquisas e procedimentos. Uma novidade, por exemplo, é a substituição do cateterismo por uma técnica de tomografia. O cateterismo passaria a ser usado para tratamento.
Abaixo, trechos da entrevista que Carvalho concedeu:
 

Folha - De acordo com os estudos, as pessoas não estão cuidando do coração. É isso mesmo?
Antonio Carlos Carvalho -
Vinte anos atrás, as doenças cardiovasculares eram a terceira causa de morte no país, hoje são a primeira. Entre os 1.021 trabalhos científicos apresentados ao congresso, muitos tratam da prevenção e das consequências dessas doenças. O que se constata é que é preciso agir antes que as pessoas adotem práticas prejudiciais à saúde, pois mudá-las fica difícil. Ninguém acredita que os hábitos de hoje terão consequências daqui a 15 ou 20 anos. Só os atos de não fumar, de caminhar e de manter o peso reduzem muito os riscos futuros.

Folha - E o colesterol do brasileiro, como vai?
Carvalho -
Cerca de 40% dos adultos estão com o colesterol alterado, ou seja, com o LDL (mau colesterol) acima de 120 mg/dl. Esse resultado aparece num estudo feito pela Sociedade Brasileira de Cardiologia com 82 mil moradores de médias e grandes cidades. A pesquisa mostra que quase metade da população adulta brasileira tem um fator de risco grave para doenças coronarianas, que é o colesterol elevado. Nos EUA, 35% a 37% dos adultos têm o colesterol alterado.


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