São Paulo, domingo, 22 de setembro de 2002

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Estilo é gótico "antropofágico"

DA REPORTAGEM LOCAL

Os relevos, ornamentos, esculturas e outros detalhes da catedral revelam a apropriação -ou "antropofagia", nas palvras do arquiteto Paulo Bastos- do estilo gótico, predominante na obra.
O "orgulho paulista e brasileiro" é expresso na substituição dos símbolos europeus por guirlandas de café e maracujá, pontuadas por animais como peixe-boi, tatu e porco-do-mato. "No centro da rosácea que fica na entrada, está o brasão de São Paulo", conta.
Segundo o arquiteto, historiador e professor da USP Carlos Lemos a catedral é coerente com sua época. "O gótico é um estilo medieval europeu, de uma época em que o Brasil nem existia. Mas no fim do século 19, houve a corrente do ecletismo, que significa a coexistência de estilos opostos. Nada mais natural que o arquiteto o escolhesse", considera Lemos.
A catedral substituiu a antiga matriz da cidade, construída em 1598 e reformada em 1745, quando ganhou a torre principal. Na época, diz Lemos, a igreja teve de ser demolida porque um plano de remodernização de São Paulo, feito pelo então prefeito conselheiro Antônio Prado, criava uma espécie de anel viário para desafogar o centro. "Na região, havia congestionamentos de bondes, charretes e carros. O plano foi criado pelo chefe da prefeitura, Victor Freire, e endossado por um arquiteto francês chamado Bouvard", diz.
Além da igreja, foram demolidos três quarteirões de casas acima, até a parte onde hoje está o Fórum Central de São Paulo.

Famílias tradicionais
A igreja "neogótico-renascentista" foi construída com dinheiro arrecadado em campanhas, que incluíram, entre os doadores, famílias tradicionais da cidade e até a Prefeitura de São Paulo.
A maioria dos artistas que esculpiram relevos e ornamentos era italiana. Profissionais da arte sacra de renome mundial trabalharam na Sé, mesmo que a época não tenha sido pródiga em artistas do gênero. A matéria-prima era o granito de Ribeirão Pires.
Nos 41 anos de obras, alguns artesãos morreram antes de vê-las terminadas: o escultor italiano Alfredo Biagini morreu enquanto trabalhava na execução do baixo relevo do altar de Sant'Ana.


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