|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Rio estuda instalar lixão industrial próximo a ribeirão
Para especialistas, pode haver contaminação do rio Guandu, responsável pelo abastecimento de 8 milhões de pessoas
Processo de licenciamento já foi iniciado, com estudos de impacto ambiental; empresa já começou a realizar obras no local
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A PARACAMBI (RJ)
O governo do Estado do Rio
iniciou o processo de licenciamento para a instalação de um
depósito de lixo industrial e
químico a 5 km do ribeirão das
Lajes, que forma o rio Guandu,
fonte de abastecimento de água
para 8 milhões de pessoas na
região metropolitana do Rio.
Caso a licença venha a ser
concedida, resíduos do depósito poderão alcançar o lençol
freático e os cursos d'água da
região, chegando ao ribeirão, o
que ameaçaria o sistema de
abastecimento do Guandu,
acusam ambientalistas que tiveram acesso ao projeto.
Em fevereiro deste ano, a
Feema (Fundação Estadual de
Engenharia do Meio Ambiente), vinculada à Secretaria do
Ambiente do Estado, determinou à empresa Essencis Soluções Ambientais, autora do
projeto, a elaboração de um
EIA (Estudo de Impacto Ambiental) e de um Rima (Relatório de Impacto Ambiental).
A preparação do EIA-Rima é
a primeira parte do processo
burocrático para o licenciamento. Caso as informações
prestadas pela empresa no documento sejam consideradas
satisfatórias pela Feema, a tendência é a de que o depósito tenha a instalação aprovada.
Mesmo ainda sem a licença, a
empresa já começou a realizar
obras no terreno, situado na
área rural do município de Paracambi (a 75 km do Rio), na vizinhança do Depósito Central
de Munição do Exército. O solo
já passou por uma primeira terraplanagem. Na margem da estrada que liga a via Dutra (Rio-São Paulo) ao centro da cidade,
o terreno já está todo cercado.
Para o presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos do Estado do Rio, Felipe
Brasil, há risco grave de a água
do sistema Guandu ser contaminada. "A área é baixa e contribui para a drenagem da área.
Sem dúvida, os resíduos líquidos vazarão para o lençol freático, atingindo o rio em seguida."
Brasil disse que, como Paracambi tem vocação rural, sem
indústrias importantes, a lista
de clientes do depósito deverá
ser formada por grandes empresas da região metropolitana
e de Estados vizinhos, como
São Paulo e Minas. "É injusto
que a população de Paracambi
enfrente problemas graves causados por um lixo que não foi
ela que produziu."
O caso já levou a Comissão de
Defesa do Meio Ambiente da
Assembléia Legislativa a realizar uma audiência pública para
discutir a instalação do que os
ambientalistas chamam de "lixão tóxico" nas proximidades
da APA (Área de Proteção Ambiental) do Guandu.
Para o gestor ambiental Sérgio Ricardo de Lima, ex-membro do Comitê de Bacia do Rio
Guandu, "há risco real ao abastecimento público da região
metropolitana e da capital".
"É uma irresponsabilidade
os órgãos ambientais do Estado
cogitarem essa hipótese. Considero um ato de "racismo" ambiental. Os governantes e as
grandes empresas poluidoras
escolhem municípios pobres,
de organização social frágil,
condenando-as a serem vistas
eternamente como um grande
cemitério de lixo químico."
No pedido de licenciamento,
a Essencis diz ter a intenção de
construir em Paracambi "uma
central de tratamento de resíduos industriais", da qual farão
parte um aterro, uma estação
de tratamento de efluentes líquidos e um galpão de estocagem de rejeitos.
Texto Anterior: Apenas 1/3 das concessionárias de SP reduziu mortes Próximo Texto: Outro lado: Empresa diz que o aterro não poluirá o rio Índice
|