São Paulo, terça-feira, 22 de setembro de 2009

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Arquitetos renomados tentam recriar Paraisópolis

Prefeitura diz que os 7 projetos para a favela de SP já dispõem de verba (R$ 400 milhões)

Previsão é que obras, projetadas por profissionais de vários países, fiquem prontas até 2011; propostas incluem ciclovias e elevador

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Vista de Roterdã, na Holanda, a favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, parece ter finalmente uma relação mínima que seja com o significado de seu nome -cidade paraíso. Há elevadores para subir os morros, ciclovias e o córrego fedido foi despoluído e corre a céu aberto junto a um passeio.
Essa Paraisópolis dos sonhos será mostrada a partir de sexta-feira na Bienal de Arquitetura de Roterdã e não ficará no papel, segundo Elisabete França, superintendente da Secretaria da Habitação da prefeitura.
O projeto, diz ela, já dispõe dos R$ 400 milhões necessários -são recursos municipais, do Estado, da Sabesp e do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A previsão é que todas as obras fiquem prontas até o meio de 2011. Paraisópolis é a segunda maior favela da cidade, com 77 mil habitantes.
O projeto de reurbanização e de construção de prédios reúne a maior concentração de arquitetos internacionais e brasileiros de renome a atuar numa favela brasileira.
São três grupos internacionais (Urban Think Tank, de Nova York, ligado à Universidade Columbia), Elemental (do Chile) e o suíço Christian Kerez, famoso por suas obras minimalistas. Do Brasil participam Edson Elito, que criou o Teatro Oficina com Lina Bo Bardi (1914-1992), MMBB, grupo que ganhou o 1º prêmio da última bienal de Roterdã, Ciro Pirondi, criador da Escola da Cidade, e Marcos Boldarini, o novato do grupo.
O mais famoso do grupo é Alejandro Averana, diretor do grupo Elemental do Chile. Ele ganhou o Leão de Prata da Bienal de Veneza de 2008, dado ao mais promissor dos jovens arquitetos. O Elemental virou um fenômeno internacional por suas propostas inovadoras para habitação social. Suas obras deixam um espaço para o imóvel ser ampliado e há casos em que o morador cria a fachada.
Esse viés antiautoritário é a tônica da maioria dos trabalhos. O prédio de apartamentos criado por Edson Elito, Joana Elito e Cristiane Takiy tem originalmente dois quartos, sala e cozinha, mas essa configuração pode ser mudada. "Se o morador quiser ele tira todas as paredes e mora num loft. Ou cria um quarto a mais", diz Elito. No sábado, foi inaugurado o primeiro dos sete prédios. Eles terão mil apartamentos. É a primeira obra a ficar pronta.
O grupo Urban Think Tank foi ainda mais radical na ideia de ouvir a comunidade. O projeto do grupo nasceu de um estudo de estudantes da Universidade Columbia, no qual os moradores definiram o que queriam. Num morro, em que há um desnível de 23 metros, o equivalente a um prédio de sete andares, eles projetaram um centro comunitário, escola de música e hortas que serão criadas nas encostas.

Praia de paulistano
O projeto mais ambicioso de todos é do MMBB, grupo que trabalhou com Paulo Mendes da Rocha. Ele prevê a despoluição do córrego Antonico, para que ele possa correr a céu aberto ao lado de um passeio. Haverá uma praça e um prédio de sete andares. Uma ciclovia de 3 km ligará a favela à futura estação do Metrô, no Morumbi.
"Queremos trabalhar com o valor da praia urbana, como o Rio ou na represa de Guarapiranga", diz Fernando de Mello Franco. O maior desafio, para ele, é tornar o projeto um local de domínio público, como os campos de várzea, para evitar futuras invasões.
Outra proposta é a dos urbanistas Ciro Pirondi, Anália Amorim e Ruben Notero. Se for implantada, a favela passará a contar com grandes elevadores, que lembram o Lacerda de Salvador, e ciclovias.
A ideia de trazer estrangeiros busca "ventilar" a discussão sobre habitação social, diz Elizabete França. Seria ingênuo, porém, supor que é um debate de mão única, acredita Marcos Boldarini, que projetou um prédio que mescla moradia e comércio. "É muito bom ser confrontado com ideias novas, mas os estrangeiros também vêm se nutrir das coisas que encontram aqui: SP tem tradição de habitação social".


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