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Arquitetos renomados tentam recriar Paraisópolis
Prefeitura diz que os 7 projetos para a favela de SP já dispõem de verba (R$ 400 milhões)
Previsão é que obras,
projetadas por profissionais
de vários países, fiquem
prontas até 2011; propostas
incluem ciclovias e elevador
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Vista de Roterdã, na Holanda, a favela de Paraisópolis, na
zona sul de São Paulo, parece
ter finalmente uma relação mínima que seja com o significado
de seu nome -cidade paraíso.
Há elevadores para subir os
morros, ciclovias e o córrego fedido foi despoluído e corre a
céu aberto junto a um passeio.
Essa Paraisópolis dos sonhos
será mostrada a partir de sexta-feira na Bienal de Arquitetura
de Roterdã e não ficará no papel, segundo Elisabete França,
superintendente da Secretaria
da Habitação da prefeitura.
O projeto, diz ela, já dispõe
dos R$ 400 milhões necessários -são recursos municipais,
do Estado, da Sabesp e do PAC
(Programa de Aceleração do
Crescimento). A previsão é que
todas as obras fiquem prontas
até o meio de 2011. Paraisópolis
é a segunda maior favela da cidade, com 77 mil habitantes.
O projeto de reurbanização e
de construção de prédios reúne
a maior concentração de arquitetos internacionais e brasileiros de renome a atuar numa favela brasileira.
São três grupos internacionais (Urban Think Tank, de
Nova York, ligado à Universidade Columbia), Elemental (do
Chile) e o suíço Christian Kerez, famoso por suas obras minimalistas. Do Brasil participam Edson Elito, que criou o
Teatro Oficina com Lina Bo
Bardi (1914-1992), MMBB, grupo que ganhou o 1º prêmio da
última bienal de Roterdã, Ciro
Pirondi, criador da Escola da
Cidade, e Marcos Boldarini, o
novato do grupo.
O mais famoso do grupo é
Alejandro Averana, diretor do
grupo Elemental do Chile. Ele
ganhou o Leão de Prata da Bienal de Veneza de 2008, dado ao
mais promissor dos jovens arquitetos. O Elemental virou um
fenômeno internacional por
suas propostas inovadoras para
habitação social. Suas obras
deixam um espaço para o imóvel ser ampliado e há casos em
que o morador cria a fachada.
Esse viés antiautoritário é a
tônica da maioria dos trabalhos. O prédio de apartamentos
criado por Edson Elito, Joana
Elito e Cristiane Takiy tem originalmente dois quartos, sala e
cozinha, mas essa configuração
pode ser mudada. "Se o morador quiser ele tira todas as paredes e mora num loft. Ou cria
um quarto a mais", diz Elito. No
sábado, foi inaugurado o primeiro dos sete prédios. Eles terão mil apartamentos. É a primeira obra a ficar pronta.
O grupo Urban Think Tank
foi ainda mais radical na ideia
de ouvir a comunidade. O projeto do grupo nasceu de um estudo de estudantes da Universidade Columbia, no qual os
moradores definiram o que
queriam. Num morro, em que
há um desnível de 23 metros, o
equivalente a um prédio de sete
andares, eles projetaram um
centro comunitário, escola de
música e hortas que serão criadas nas encostas.
Praia de paulistano
O projeto mais ambicioso de
todos é do MMBB, grupo que
trabalhou com Paulo Mendes
da Rocha. Ele prevê a despoluição do córrego Antonico, para
que ele possa correr a céu aberto ao lado de um passeio. Haverá uma praça e um prédio de sete andares. Uma ciclovia de 3
km ligará a favela à futura estação do Metrô, no Morumbi.
"Queremos trabalhar com o
valor da praia urbana, como o
Rio ou na represa de Guarapiranga", diz Fernando de Mello
Franco. O maior desafio, para
ele, é tornar o projeto um local
de domínio público, como os
campos de várzea, para evitar
futuras invasões.
Outra proposta é a dos urbanistas Ciro Pirondi, Anália
Amorim e Ruben Notero. Se for
implantada, a favela passará a
contar com grandes elevadores, que lembram o Lacerda de
Salvador, e ciclovias.
A ideia de trazer estrangeiros
busca "ventilar" a discussão sobre habitação social, diz Elizabete França. Seria ingênuo, porém, supor que é um debate de
mão única, acredita Marcos
Boldarini, que projetou um
prédio que mescla moradia e
comércio. "É muito bom ser
confrontado com ideias novas,
mas os estrangeiros também
vêm se nutrir das coisas que encontram aqui: SP tem tradição
de habitação social".
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